terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Um mundo nada subversivo

O alarme despertou às cinco e meia da manhã. Nós tínhamos um exame importante para fazer hoje, filho. Na verdade, quatro. As minhas idas a Salvador se resumiram a médicos e testes rotineiros, nada mais...
Após o laboratório fui a uma delicatessen para um rápido desjejum e, de repente, vi da janela uma confusão na esquina. Uma mulher caída, toda de branco, com um bolo de dinheiro na mão. Duas pessoas correram para socorrê-la, uma guardou o dinheiro para que ela não fosse roubada, a outra a virou de barriga para cima na tentativa de reanimá-la. Em menos de dois minutos e a rua estava tomada de gente curiosa, uns oferecendo ajuda, outros apenas queriam assistir a tragédia e provavelmente esperavam por uma notícia fatal.
Adoramos o fatalismo, essa condição humana viciada em terror e dramas. Qualquer fato triste nos prende mais a atenção, estimula nossa curiosidade e, numa visão até positiva, nos faz assimilar melhor a realidade.
Continuei a beber o suco de laranja e uma viatura já tinha chegado, fechado a esquina e afastado algumas pessoas. Após uns quinze minutos levantei-me e fui embora. Encontrei com seu avô no banco e passamos por lá de carro novamente uns vinte minutos depois, a mulher ainda estava deitada sem nenhum sinal de consciência...
Nunca saberei se ela sobreviveu...
Estou tomada de tristeza hoje, filho. Não por causa daquela cena, admito. Mas porque percebo a cada dia mais o quanto somos frágeis. Para morrer realmente basta estar vivo! Hoje eu era espectador, amanhã poderei ser a personagem principal. E a vida continua...
Nunca saberemos quando será nosso último dia. É preciso correr contra o tempo. Correr, não! Voar! Ultrapassar a velocidade do som, da luz, da vida! Não deixar nada para o dia seguinte, pensar antes de agir. Não pensar também é uma alternativa inteligente e mais prática! Optar por ser generoso ou egoísta, bom ou ruim. Ser consciente ou delinqüente, explorar o Id do seu cérebro ou aperfeiçoar cada vez mais o Superego.
Eu já escolhi algumas vezes, filho. Já fui transviada, desapegada, descrente dos laços e obrigações espirituais que me motivaram a voltar para este mundo nada subversivo. Acertei de menos e hoje tenho que conviver com os meus erros. Não acompanhei as leis naturais. Fui feliz, sim! Mas também me desgastei em muito pouco tempo... Relutei, preguei novas idéias e fui condenada. Senti-me como as bruxas da Santa Inquisição, réu sem qualquer motivo forte! E daí veio a revolta muda na minha cabeça. Os meus pensamentos se voltaram para uma revolução, uma guerra eterna entre os padrões e meus desejos. Não aceitei o discurso do meu professor da universidade sobre sermos todos iguais, instrumentos da mesma pós-modernidade, vítimas dos mesmos meios e ideais de consumo. Estava enganada! Ele já tinha vivido muito mais do que eu e sabia o que estava dizendo. Provavelmente não porque se especializou em metodologia científica e comportamento social, mas porque algum dia já foi como eu, um revolucionário falido. A bandeira é forte, mas a muralha que envolve essa realidade construiu alicerces muito mais resistentes...
Há algum tempo, para uma mulher na minha situação, o mundo seria impossível! Um esconderijo na floresta mais fechada seria a única solução. Hoje é tolerável, mas não menos condenável quando me viro de costas. Foi difícil voltar ao Brasil. Foi terrível encarar os olhares de decepção e, de alguns, até o desprezo. Foi triste perceber em algumas pessoas próximas a satisfação pela minha “derrota”. Afinal, voltei sozinha, grávida e sem estrutura financeira suficiente. Se não fossem os meus pais...
Engoli, calada, comentários do tipo: “os filhos de Jorge realmente não deram para nada! E agora? O que será dessa menina? E o pai dessa criança?”
Uma amiga da minha mãe foi capaz de me dizer que nunca imaginou que isso aconteceria com uma pessoa como eu, que sempre pousei de firme e independente. Inclusive me usou como exemplo para os filhos, para que nenhum deles repetisse o meu mesmo erro. Ninguém pode imaginar o que sofri quieta, no meu quarto. Quantas noites em claro, chorando, caindo em desespero e vergonha. E isso ainda acontece, filho. Confesso!
Já desejei muito estar numa situação semelhante à daquela mulher, caída, desmaiada e inconsciente. Quantas vezes idealizei uma morte repentina e tranquila, num cenário calmo, na minha cama... Perdoe-me, Anachin. Mas a euforia em ter-te dá espaço para o desânimo, às vezes...
Mas logo me lembro do seu perfeito rostinho, em todos os sonhos que já nos encontramos, e a decepção por causa dessa mentalidade humana e primitiva evapora! Que se explodam os pessimistas! O inferno tem espaço vazio suficiente para pessoas tristes e terríveis! Como essas que se lambuzaram com o meu sofrimento, com fofocas e comentários maldosos. Como aquelas pessoas que assitiram o episódio de hoje apenas para alimentar seus olhos famintos de desgraça alheia e continuarem suas vidas medíocres. A realidade machuca, Anachin. Não posso te esconder que você está chegando num mundo onde existe uma batalha travada entre zumbis sanguinários e anjos do apocalipse.
O alarme despertou às cinco e meia da manhã. Nós tínhamos um exame importante para fazer hoje, filho. Na verdade, quatro. Mas um pesadelo me pareceu tão real que preferi não levantar da cama...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

"Great songs never leave us, on a jet plane or otherwise..."

John Denver.
O conheci ainda muito jovem através dos cds do meu pai. Foi por causa dele que descobri a minha paixão por country music. Com ele que chorei muitas vezes quando estava triste e sorri quando senti alívio e felicidade. Ainda é assim...
Inexplicável como suas músicas tocam o meu íntimo, dizem coisas sobre a minha vida e exploram meus sentimentos. Sua voz... Ah, a sua voz me transmite paz de espírito mesmo quando sou traída e devastada por meus pensamentos. As minhas memórias com John Denver são magníficas!
Ele esteve presente quando senti a perda do meu primeiro amor, quando quis dizer adeus a algumas pessoas que deixei no Brasil em 2006, quando me senti insegura nos primeiros meses em Londres, quando me arrumava para o trabalho, as baladas, o Oneill’s! Esteve presente quando voltei ao Brasil e permaneci por seis meses sentindo falta dos ares e costumes europeus, quando decidi retornar e recomeçar a minha vida na cidade que escolhi para viver, quando reencontrei o seu pai e construímos uma história relâmpago! Quando descobri você... Quando tive que esquecer de mim e decidi vir embora novamente para o Brasil cinco meses após a minha volta para Londres.
Quando me despedi do seu pai, sem imaginar que poderia ser para sempre. Um adeus que eu entendi como “até logo!”
Quando realizei, já no Brasil, que estava sozinha e me sentindo abandonada.
John Denver está presente até hoje na minha dor, na decepção e desilusão... Ele também está nos meus planos para nós dois, baby!
Ele nunca esteve tão perto de mim quanto no dia em que decidi voltar. Eu estava no Hyde Park com o seu pai e, após uma dura e longa conversa, levantei-me e liguei para seus avós. Contei que estava difícil permanecer em Londres grávida e, por isso, voltaria para casa. Nao pude conter o choro e as lágrimas escorriam por meu rosto de uma maneira incessante. Eu finalmente tinha entendido que não teria o apoio necessário se ficasse lá e me conformei. Foram lágrimas de conformismo e dor, dois sentimentos que não deveriam nunca existir! Seu avô, como sempre maravilhoso, sem perguntar motivos, me disse: “Filha, estarei aqui esperando por você. Eu prometo que irei cuidar e amar seu filho como amo a você. E nada lhes faltará enquanto eu estiver vivo! Só te peço, minha filha, que não chore, por favor...”. Sua avó, mais fria por natureza, mas não menos preocupada e sentida, me perguntou se tudo estava bem conosco, para eu me cuidar e voltar em paz.
Seu pai assistia a tudo de fora da cabine telefônica e, ao fim da ligação, abriu a porta e me puxou com toda a força para os braços dele. E choramos juntos, por bastante tempo. Tudo decidido! Uma semana depois eu estaria no Brasil, sozinha...
Do parque então começou a despedida, e numa loja de cd encontramos John Denver novamente. Por um segundo esqueci de todo o sofrimento e seu pai, com o sorriso mais familiar que eu pude identificar nele depois de um mês, tocou na minha barriga e disse: “You’re beautiful! The baby is there, I can feel it! You’ll be so beautiful...”. E me deu um beijo cheio de amor. Sinto muito a falta daquele momento na loja...
Nosso destino então foi a minha casa, o meu quarto, todas as nossas lembranças naqueles cinco meses que estivemos literalmente juntos. Então eu quis reencontrar John Denver e pus o cd que havia comprado para tocar. A primeira música, “Leaving On A Jet Plane”.
“So Kiss me and smile for me
Tell me that you’ll wait for me
Hold me like you’ll never let me go
‘Cause I’m leaving on a jet plane
Don’t know when I’ll be back again
Oh babe, I hate to go...”

Nossa! Ele sempre acerta, filho! Eu e seu pai, abraçados na minha cama, choramos muito! Choramos o cd inteiro, porque todas as músicas diziam algo que nos tocavam a alma. Todas as canções representaram, naquele momento, a despedida mais linda e sofrida, os sentimentos que estavam sendo abortados, as memórias que lutaram bravamente, em vão, para não se resumirem a promessas não cumpridas como agora.
Ao fim da primeira música eu disse a seu pai: “Babe, I hate to go...”
Mas nem John Denver foi capaz, dessa vez, de evitar a minha volta ao Brasil... E eu me senti como na canção “Fly Away”.
“In the whole world there’s nobody as lonely as she
There’s nowhere to go and there’s nowhere that she’d rather be...”
Agora mesmo ele está cantando para mim, no meu quarto, enquanto escrevo para você sobre a sua história. Ele me acompanha nas manhãs quando acordo e lembro daquele dia, quando vou dormir e imagino te ninar com as maravilhosas melodias de suas músicas, quando canto para você reconhecer a minha voz desafinada e cheia de amor, quando dirijo ao me sentir só e angustiada, quando respiro e quando estou apaixonada por meus pensamentos mais loucos e sinceros!
Eu faço questão que a sua primeira dança seja comigo, ao som de John Denver, porque ele representa toda a nossa história juntos. Ele representa o meu amor por você, Anachin.
“I know that life goes on just perfectly
Everything is just the way it should be
Still there are times when my heart feels like breaking
And anywhere is where I'd rather be”
Ele acertou mais uma vez...

domingo, 18 de janeiro de 2009

NÓS

Baby!
Quero te mostrar o quanto sou feliz por ter você...
Nossa história é diferente, mas é a mais linda quando se trata de nós dois!
Olha como estamos lindos juntos! Sete meses e meio e parece que você sempre esteve aqui! Somos Lindos!!!
Eu sempre soube que você existiria, só não imaginava que ocuparia um pequeno espaço físico dentro de mim e, ao mesmo tempo, todo o meu universo!
Amo você, Anachin!




sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A comédia e a tragédia


A reclusão.
Neste exato momento da minha vida ela se faz mais do que necessária. É a minha melhor amiga e minha pior inimiga. Nunca imaginei que poderia passar tanto tempo sem pertencer a um meio social, sem ter muitos contatos com amigos e até mesmo conhecidos, ir a festas, desfilar nos shoppings à procura de algo que, na verdade, não preciso. Sair para dançar, me bronzear nas praias mais badaladas, ser paquerada...
Um simples percurso de Londres a Salvador e minha vida se resumiu a um terreno de pouco mais de três mil metros quadrados em Jauá. Meu mundo, uma rede, uma piscina, um campo de futebol que não utilizo, um quiosque onde acesso a internet, uma varanda onde me localizo agora e escrevo. Uma casa, um refúgio, um esconderijo, um spa, o céu. A claridade incomoda aqui!
O Éden...
O inferno também, algumas vezes...
Os meus pensamentos ecoam em todos os cantos, batem nos muros, fazem a volta e vêm novamente em minha direção como furacões devastadores. Eles gritam! Berram! Soam como o canto das águias sobrevoando o local da caça, parecem com animais feridos e escondidos dentro das árvores. Com medo, com raiva, com dor...
Se assemelham, ao mesmo tempo, a filhotes de passarinhos ainda depenados no ninho, à espera do alimento que chegará no bico da mãe. Aos bichos escrotos que só aparecem à noite, aos insetos que sugam nosso sangue após o pôr-do-sol, aos gatos que saem sutilmente em busca de presas na escuridão.
Confuso! Ao mesmo tempo muito claro...
A grande preocupação do mundo em “Ser ou não ser” não se classifica mais como “A questão”. Posso ser tudo, ou nada! Ja fui tudo, e agora me sinto como um nada... Logo poderei ser mais do que tudo outra vez! Basta uma estratégia diferente na minha mente e meus pensamentos se voltam para um mundo totalmente desconhecido e digno de exploração agressiva! Esqueço as aparências e realizo na minha imaginação coisas jamais ousadas na contemporaneidade. A mente é uma máquina poderosa, especialmente para aqueles que vivem dela... Eu não tenho outro caminho a percorrer no momento, dela me alimento e trabalho o passado, o presente e o futuro. Um cotidiano, ao mesmo tempo uma vida diferente a cada dia, sem interrupções.
A minha cabeça vai explodir! Respiro fundo, e logo a calmaria toma conta... As ondas da mentalidade alienada já não são mais nocivas. A paz reina novamente e tudo volta a ser como imagino a eternidade. Um espaço branco totalmente iluminado, uma luz que machuca as vistas, sem som, sem paredes, sem limites. Confunde os sentidos... Como isso pode representar, ao mesmo tempo, a vida e a ausência dela? Corro como uma alucinada e, de repente, um buraco se abre sobre mim e começam a cair meus velhos e novos pensamentos, colorindo tudo, e me afogo!
Mas não morro...
O conflito, seguido da tranquilidade instantânea quando percebo que nada fiz de errado! Apenas confiei no mundo... Apenas vivi!
Confio em você, filho, como a quebra do sigilo. Confio em você como a bandeira de paz estiada e a revolução por ideais inaceitáveis! A quebra do ciclo... Como o bem e o mau, a linha tênue que separa a razão e a emoção. Porque já não sei mais o que posso ser quando penso que você estará aqui e guiará a minha vida como um pacificador e, simultaneamente, como um gladiador! Você será meu Gandhi e meu Alexandre. Minhas duas faces.
A comédia e a tragédia.
Meu céu e meu inferno...
Meu velho inimigo e o mais novo amigo.
A minha liberdade e o direito de percorrer os universos parelos dos mortais e imortais.
O meu mundo...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A sagrada colina


Uma Igreja até pequena, mas de uma grandiosidade indescritível, do alto de uma colina sagrada, com a vista para a Bahia de Todos os Santos, completamente iluminada...
Uma escadaria, uma enorme porta que dá acesso à maior demonstração de fé presenciada por qualquer indivíduo...
Objetos e imagens que justificam as sensações de paz e misericórdia...
O choro contido ao ajoelhar-se. O choro não contido ao ler os milhares de agradecimentos presos na parede, as inúmeras curas, milagres e revelações divinas...
A Igreja do Senhor do Bonfim.
Estamos agora na tranquilidade em Jauá, filho. Mas neste exato momento vejo na televisão os baianos comemorando o dia desse Santo, numa celebração rica em crenças populares, folclores e religiosidade, cantando o hino mais emocionante que já ouvi. Tudo se mistura nas escadarias e fica difícil identificar a pessoa mais envolvida. O padre, da sacada, expõe a linda imagem de Cristo crucificado, enquanto os Filhos de Gandhy tocam instrumentos de sopro. Todos os fiéis vestidos de branco, um lindo tapete branco na escadaria. É realmente lindo de se ver!
A lavagem do Bonfim...
Um banho de fé, uma preparação para todo o ano que vai seguir.
A igreja é um dos cartões postais mais importantes da Bahia, conhecida mundialmente. Qualquer turista que chega à cidade de Salvador precisa conhecer essa maravilha e prender uma fitinha benzida no braço, de preferência posta por uma baiana a caráter, e fazendo os três pedidos juntamente com os nós. E não foi diferente com Tammy...
Eu senti a sua emoção desde o momento que paramos o carro. E observá-la orando ajoelhada foi incrível! Não me contive e tirei muitas fotos, inclusive no momento que ela acendeu velas e fez os pedidos. Ela não me contou, mas eu tenho a certeza de que pediu por nós e pela recuperação total do pai. Eu pude sentir a vibração, inexplicável!
Nossa relação estava estremecida por causa de alguns acontecimentos em Londres, mas essa história fica para outro dia...
Vir a Salvador para me visitar e, principalmente, conhecer a ti através de uma ultra, foi uma atitude mais do que merecedora para hoje ser considerada uma grande amiga da mamãe. Nos reaproximamos e nos tornamos confidentes novamente. Confesso que estou muito feliz por isso!
Para selar a amizade, Tammy teve a idéia de prendermos uma fitinha branca na noite de Reveillon, ao mesmo tempo. Então eu sugeri que a usássemos no pé direito, como um símbolo de nova caminhada, de nova vida, uma nova chance. No momento da virada, com os fogos estourando e todos desejando o melhor ao próximo, sentei-me e prendi a fitinha no local combinado. Os desejos? Sim... Secretos! Mas tenha a certeza de que foram todos em sua intenção, filho!
Aqui em casa temos uma tradição para a virada de todos os anos. Sempre somos as mesmas e poucas pessoas, fazemos uma roda de oração, seu avô faz um belo discurso, os outros complementam e todos pedimos, em silêncio, por um mundo melhor. Após isso, no momento da grande comemoração e com o estouro do champanhe, toca-se o hino de Senhor do Bonfim. E todos se abraçam! Foi nesse momento que amarrei a fitinha, sozinha, sentada num canto escondido, e supliquei por maravilhas na sua vida. Sorte na sua longa caminhada. Amor, saúde, paz...
Os desejos? Esses serão eternamente secretos! Confie em mim, são anseios tão grandiosos quanto...
A fitinha que eu prendi no meu pé direito não foi para mim. É para você! Estará ainda aqui quando você nascer... Ela é branca, e como todas possui a frase “Fita do Senhor do Bonfim da Bahia” escrita nela. É benta. É da Bahia!
Sua vida já é cheia de bênçãos, Anachin!
É uma criança protegida e vigiada por todas as divindades, pela natureza, pelas pessoas próximas a mim, até mesmo por aquelas que estão distantes, mas me amam e se preocupam comigo.
A lavagem da Igreja do Senhor do Bonfim, hoje, celebra milhares de milagres.
Eu, aqui em Jauá, comemoro a sua chegada...

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A música...


A música...
Um dia você perceberá que nada me faz mais feliz, mais completa.
É com ela que choro, que sorrio, que me esqueço das coisas ruins e lembro dos melhores momentos da minha vida. Uma criação divina! Tenho certeza de que uma coisa tão maravilhosa não pode ter sido idéia de simples humanos como nós...
Eu acordo com a música e durmo com ela. Com certeza o fiz acompanhando algum ritmo, filho. E será com ela que irei criar-te.
As minhas lembranças sobre música são inúmeras...
Eu odiava aquele silêncio da sala de aula nos dias de prova. Não conseguia pensar. Por isso sempre cantava na minha mente músicas durante a realização de alguma, todo o tempo! Do momento que sentava na carteira ao momento que assinava e entregava a apostila à professora. Confesso que não sei tomar banho sem uma boa seleção musical. Hoje, as canto para você enquanto aliso a minha barriga debaixo d’água. Dirigir sem som? Jamais! Tenho cds favoritos para esse momento. Quando estou muito triste e não consigo segurar a angústia, pego a chave do carro e o meu cd country, sigo em direção à Estrada do Côco e só retorno quando me sinto melhor. Choro, choro muito! Depois que a tristeza passa eu sorrio, e começo a berrar as letras como uma louca! Nesse exato momento escrevo para você e escuto Nirvana – unplugged in NY. Ultimamente são as canções que representam meu estado de espírito. Aquela voz... Rasga-me por dentro, me vira do avesso e joga todas as minhas emoções para fora. Fecho os olhos e tudo que aconteceu, desde que descobri que você existia, volta como flashes que me cegam! Dói, mas depois vem o alívio... E começa tudo de novo...
Aperto os olhos numa tentativa desesperada de conter as lembranças, em vão. Elas estão aqui, estarão para sempre, em mim, em você, em tudo que diz respeito a nós...
Não sabes o quanto me condeno todos os dias por fracassar. Eu imaginei outra situação, bem diferente disso tudo. Uma comemoração na descoberta, um abraço de felicidade do seu pai, ouvir “obrigada por ser a mãe do meu filho, o bebê mais lindo do mundo!”, um cuidado excessivo que se tornaria até engraçado e ridículo, a alegria de desfilar com a barriga mais linda (porque está mesmo linda!) de mãos dadas e ter a felicidade em poder dividir os momentos do médico, dos cuidados e toda a preparação para a sua chegada...
Não imagina como é estranho receber beijos do seu avô na barriga, todos os dias, de minhas amigas, de suas tias e de quaisquer outras pessoas, menos do seu pai. É terrível perceber a preocupação alheia conosco, mas não a dele como deveria ser...
É aí que essas músicas entram em cena, como uma tentativa não menos falha de substituir a presença que deveria ser dele. Eu sei que é difícil de entender tudo isso que estou dizendo agora, mas eu prometi a você que não esconderia nem um detalhe da sua história. Essa é a sua história até agora, e preciso dividir com você.
A música...
Consegue ouvi-la? “Come as you are, as you were, as I want you to be. As a friend, as a friend, as an old enemy...”
Tenho a certeza de que está ouvindo, Anachin! Você se mexe como se estivesse dançando, assim como eu fazia! Nossa, como você se mexe!
As músicas...
Expressões sentimentais, de todas as formas do estado de espírito. Melodias mágicas que podem começar ou cessar uma guerra, uma guerra de almas, dos sexos, dos anjos... Poderosos canais de troca de energia. O choro torna-se uma música, assim como o riso, um lamento, um alívio...
O balanço de folhas com o vento, o vento, o bater das asas dos pássaros e seus cantos, o rio... O mar!
Poemas musicados, canções recitadas... Tudo, no fim, vira música!
O sangue da humanidade, a essência da natureza, criações divinas completamente distintas e, ao mesmo tempo, com o mesmo propósito. A música!
A música, filho... Seu momento, todos os seus momentos, a sua história.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Essa idealizada infância...

Ok... A face do sono é a que me domina agora!
Os olhos pesam, o corpo percebe o peso do cansaço (embora não tenha feito nenhum esforço físico!), a mente entra num estado suave de inebriação e já começa a confundir os episódios ocorridos no dia, não processa mais nada! Tudo que desejo é a minha caminha com um travesseiro, um edredon e o ar-condicionado. É exatamente o que estou fazendo agora, esperando o estado alfa, beta, gama...
Se tudo fosse como no desenho do Pluto! Eu não resistia ao ver o pobre cachorrinho caindo de sono e uma miniatura sua impedindo o tão esperado descanso. A pestinha apoiava suas pálpebras com palitos de dente! Hehehe! Mas quando queria fazê-lo dormir, simplesmente jogava um saco de peso sobre os olhos e, se não bastasse, era fácil dar-lhe uma pancada na cabeça... O tadinho desmaiava na hora!
Como era bom assistir desenhos... As crianças não esperam muito da vida, só querem mesmo uma boa diversão, colo e mimos. Acho que ainda não cresci, porque não evoluí muito nos meus desejos. Penso que, se todos aspirassem apenas isso, o mundo não seria tão miserável! Nossa, como as pessoas não pensam nisso??? Quanta burrice! Está provado que a nossa inteligência regride à medida que vamos crescendo. Uma espécie de “evolução involutiva”! Se é que isso existe...
Acho uma brutalidade e injustiça o que fazemos com os nossos pequenos. Tão novos, frágeis, e já carregam nas costas o peso de uma vida inteira programada pelos pais. Tão inocentes e já são rotulados de “futuro da nação” antes mesmo de poderem entender o que significa o amanhã. Para uma criança não importa o que vem depois, é o agora que interessa! E tem coisa mais gostosa do que isso???
Filho, estou dizendo! Sua mãe já foi contaminada, porque me pego imaginando que será um surfistinha poliglota antes dos 10 anos! Imagina! Ahahahah! Já sonhei com nós dois descendo e subindo morros na Chapada Diamantina, dormindo no meio do mato, andando de moto pelas ruas como loucos, surfando lado a lado, descendo de rappel e fazendo muitas outras coisas que eu ainda não tive a oportunidade de realizar sozinha... E nem quero mais! Agora você existe e não há nada que eu possa desejar sem você por perto. Mas quem disse que desejará ir comigo, hein?
Eu já pedi a seu avô para plantar uma nova árvore na frente do terreno, para que quando você tenha uma certa idade eu possa construir uma casa de madeira no topo, com uma barra de escorregar para nós descermos, assim como nos filmes. E pedi a sua avó que fizesse uma pranchinha de surfe branca com o seu nome, para pôr na porta do quarto do hospital no seu nascimento.
Já informei a toda família que não irei batizá-lo. Será uma decisão sua a religião a ser seguida, se for o caso de ter uma. Caso resolva ser católico, escolherá os seus padrinhos.
Defini a cor verde para o começo da sua vida, assim como é a minha. Te imagino como um grande amante da natureza...
Nossa! Só agora percebo que me tornei uma adulta!
Já estou decidindo o início da sua caminhada! Como me sinto ditadora, filhote! Será que você irá se revoltar contra mim um dia por essa idealizada infância???
Não me culpe, mas sim a seus avós. Eles me levaram para acampar, para escalar chapadas, me proporcionaram férias maravilhosas onde hoje moramos. Veja bem! Sua primeira morada será a casa onde eu passava férias! Não é minha culpa...
Tudo bem! Para não dizer que sou má, deixarei você andar descalço, correr na pequena duna na frente do terreno e se sujar todinho de areia. Poderá ajudar sua avó a alimentar a família de micos, todos os dias, e também catar os ovos das galinhas que seu avô já te deu, sua primeira herança! Prometo deixar-te jogar grãos para os pássaros e ir brincar no parquinho do condomínio, todas as tardes, assim que o sol cair. E juro que não impedirei que entre na piscina, que brinque com as ondas desse marzão maravilhoso que temos. Irei te embalar muitas noites ao som dele...
Ainda zangado? Ok... Prometo te amar, te amar e te amar. Muito! Mais do que tudo!
Sonho com a nossa volta para Londres e lá te proporcionarei uma vida diferente. Mas enquanto estivermos aqui em Salvador, baby, é apenas isso que posso oferecer no momento. Espero que seja do seu agrado...
Tentarei ser seu pai, sua mãe, sua amiga e companheira. Sua amante, sua amada, sua eterna namorada... Uma eterna apaixonada!
E se por algum momento eu falhar, perdoe-me! Eu só estou tentando ser a sua mãe.
Estou apenas tentando ser uma criança novamente, para te acompanhar. Estou procurando em mim a infância perdida que se tornou parte de minha memória mais secreta. Tento achar dentro de mim, mesmo que seja ainda em sonhos, a companhia perfeita para você. Não pretendo ser mais velha e nem mais experiente. Quero ter a sua idade, sua mentalidade. As crianças são muito mais sábias e sinceras. Os adultos só não aceitam isso... Não aproveitam a segunda chance que a vida dá para reviver a melhor fase que já tiveram, algumas pessoas até de viverem pela primeira vez.
Eu não quero perder essa oportunidade...
Hum... Acho que o bichinho do sono está tentando fechar os meus olhos, filho.
Uma maravilhosa e tranquila noite!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

No words

Bom… Serei breve.
Não quero falar. Hoje estou assim, quieta.
Sem pensamentos, sem palavras, sem ações.
Em um segundo, todas as idéias que estavam aqui se foram!
Eu queria ter algo para te dizer, filho. Acontece que às vezes sinto como se um vento gelado invadisse a minha cabeça e congelasse tudo! Não consigo sair dos cenários do passado, não consigo sequer idealizar um futuro próximo!
Me desespero porque sei que você estará aqui em breve, e seus olhos estarão sempre famintos de uma imagem perfeita. Uma mãe perfeita. Palavras que não decepcionam e nunca, nunca o silêncio. Jamais uma postura indecisa e insegura, inaceitável qualquer tentativa de evitar-te.
Às vezes os filhos assustam e só entendi isso quando me percebi mãe. Quantas vezes chorei por saber que você estava vindo... Te desejo, suplico para que o tempo passe voando só para te ter nos meus braços. Mas me assusto, sim! Estou em pânico, não posso negar.
Uma coisinha pequena que está tomando uma dimensão incrível! E a cada dia mais percebo a minha personagem como coadjuvante nesse filme. Você é o meu astro principal! E eu que achei que era a estrela maior de todas! Um dia pensei assim...
A gravidez perfeita, o filho perfeito, a vida que poderá ainda ser perfeita...
O medo que se transformará em amor, mais amor! A dor que significará nascimento. O choro que pede colo. O seio que representa a maternidade. As noites em claro, admirando o rosto mais lindo e familiar, o reflexo de uma história. Uma história...
Muitas histórias! Tantas que me perco, não consigo administrar na minha mente exatamente quando tudo isso começou.
Prometo tentar...

domingo, 11 de janeiro de 2009

As duas faces da vida


Acho que eu estava um pouco decepcionada ontem, confesso! Bom… Todo mundo tem esses dias, creio eu. Mas não retiro uma palavra do que disse, se pudesse lutar contra o sono diria muito mais coisas, hehehe! Após postar no blog voltei para o quarto, com a finalidade de descansar o corpo e, principalmente, a mente. Mas as minhas vistas se voltaram (como sempre!) para o único retrato que trouxe de Londres comigo. Uma foto minha e do seu pai na nossa última viagem juntos, Dublin. A foto é linda, a minha amiga Naiagia captou uma cena de beijo no meio do parque mais famoso da cidade (nao me recordo o nome do local), no primeiro dia de passeio. Eu já sentia a sua existência, só não queria acreditar na minha intuição. Não queria assustar o seu pai no meio das férias que ele tanto programou para passarmos juntos. Eu estava em pânico! Mas segurei a angústia até onde pude. Só dividi com ele a possibilidade de gravidez no nosso último dia de viagem. Mesmo eu já sentindo um certo distanciamento por parte dele, filhote, ainda assim fomos felizes naqueles dias. Se hoje você me vê com um olhar triste e perdido, pode ter certeza de que eu não me sentia assim quando estava perto dele…
Admiro sempre essa foto e me transporto imediatamente para aquele cenário. Como um transe, faço uma regressão ao momento do beijo. Lembro-me bem que, após isso, sentamos perto de uma fonte para esperar pelo fim do ensaio fotográfico de Nai e Migul. Um pássaro pousou bem pertinho de nós, lindo! E seu pai tirou fotos, e estávamos rindo ao assistir as mil poses de Nai, enquanto Migul a seguia com a câmera. Sabe aquela cena de filme que sempre desejamos viver equanto românticos convictos? Pois é… Foi bem assim!
O engraçado é que essa foto resolveu deslizar pela moldura, ficando aparente apenas as nossas cabeças. Eu sempre a conserto, como numa tentativa de congelar o passado. Incrível! Ela deslizou novamente! Parece até sinal…
Um mês após estava no Brasil e você nao era mais uma sensação, mas sim uma certeza! Hoje a foto está exposta na instante do meu quarto e me sinto a mais tola das mulheres por continuar sonhando com um novo dia como aquele. Por mais que fiquemos juntos como casal, aquele dia jamais acontecerá de novo! Nada mais será como antes. Nunca é, filho!
Ontem fiquei olhando para a moldura e pensando sobre as duas faces da vida. Para tudo há dois lados, e sempre devemos identificar onde estamos exatamente. Inaceitável permanecer em cima do muro.
As duas faces da morte, a de quem vai e a de quem fica; as duas faces do nascimento, a de quem chora assustado ao nascer e a de quem chora de emoção ao ver nascer; as duas faces da guerra, a de quem invade e a de quem é invadido e foge; as duas faces da agressão, a de quem bate e a de quem é espancado; as duas faces da dor, a de quem sente e a de quem assiste e se sente impotente; as duas faces da felicidade, a de quem a promove e a de quem é contemplado.
As duas faces do amor, a de quem ama e a de quem é amado…
As duas faces de um laço, uma mãe e um filho.
As duas faces da vida! Sempre opostas e tão próximas!
Você vai nascer só, querido. E vai morrer só. Essas duas faces de início e fim da vida serão apenas suas no seu momento. Eu estarei aqui para te abraçar quando você vier, e espero que você esteja aqui para me abraçar quando eu me for. É a maneira mais próxima de dividirmos a mesma face. Impossível chegarmos mais perto…
Na verdade, eu e seu pai já compartilhamos as duas faces, quando fizemos você. E eu desejo muito que ainda possamos compartilhar a face da emoção de te ver chegar a esse mundo, nos nossos braços. Seríamos três pessoas felizes nesse momento, e nada mais importaria! Nem o passado, nem o futuro… Apenas aquele momento único e mágico!
Na foto, querido, já éramos três. Você já existia naquele episódio. Hoje podemos estar longe do seu pai, mas muitas vezes você foi envolvido por seus braços ao nos deitarmos, antes mesmo de sabermos que um bebê nosso estava dentro de mim. Muitas vezes nossos abraços já foram de três. Nossas alegrias, passeios, carinhos e juras de amor.
O início e o fim são as duas faces que se transformam em um ciclo vicioso da vida de qualquer indivíduo.
O início da sua história está nessa foto, a primeira face de muitas que irão surgir.
O fim…

sábado, 10 de janeiro de 2009

BOA SORTE!

São dez horas da noite de sábado e eu estou em casa escrevendo para você, pequeno. Há alguns anos não existiria essa possibilidade, até mesmo porque não poderia sequer imaginar que você estaria vindo assim, tão depressa e de uma maneira inesperada…
Ultimamente não tenho saído de casa. Não me agrada mais a idéia de estar em público, em barzinhos ou boates, nem mesmo a vontade de comparecer em reuniões em casa de amigos existe. Tomar um bom banho e passar um hidratante, vestir uma camisola confortável, sentar para assistir a novela do horário nobre tomando uma sopa de legumes ou caldo verde e, após tudo isso, escrever aqui para você acompanhada de um delicioso copo de coca-cola geladíssimo, isso sim! Isso sim é a melhor das diversões para mim no momento.
Quer saber? Estou cansada de presenciar a vida imitando a arte! O dom artístico das pessoas está cada vez mais aguçado, já não sabemos mais quem está desempenhando o seu papel natural ou quem está apenas tentando ganhar o Oscar! Fica difícil sustentar uma conversa, acreditar nos textos pré-programados é um sacríficio sobre-humano. Ver a novela, por mais mentirosa e ridícula que seja, está me parecendo algo mais prazeroso…
Filho, um dia você vai perceber e não tem escapatória! E provavelmente um dia você também irá fazer o mesmo com alguém, até perceber que se tornou um pouco daquela marionete ambulante da pós-modernidade. Se livrar das cordas será uma tarefa árdua e praticamente impossível, tão dolorosa quanto tirar a sua propria pele… Hoje, escrevendo isso para você, me sinto um pouco dentro da Matrix, como se eu tivesse arrancado aqueles cabos de energia da minha cabeça e estivesse lutando contra o computador que nos guia. Você irá enxergar, Anachin, que é muito mais fácil julgar as pessoas por seus próprios erros. Que todos serão sempre o seu espelho e verá os seus defeitos refletidos nos olhos do próximo, do mais próximo, mas nunca em você. Perceberá que está apto SEMPRE a dar conselhos, mas nunca a ouvi-los. Que as suas idéias são as mais viáveis e justas, e que seus erros não serão erros, mas atitudes justificáveis. Você NUNCA admitirá que suas ações foram vergonhosas ou até mesmo apenas equivocadas. Mas o seu amigo, ou aquele indivíduo que foi mencionado nas páginas policiais ou de fofocas, esses sim! Sempre tiveram comportamentos duvidosos… Na sua família não terá homossexuais ou viciados, jovens vagabundas, ladrões, enfim! Nenhum componente que a sociedade classifica como “pessoa com desvio de caráter”. Se a vida não te liberar disso, você dará um jeito de ocultar. O seu clã é PERFEITO! Pelo menos aos olhos famintos da aglomeração social precária que chamamos de CIVILIZAÇÃO.
Aqui já existe uma troca de favores entre as partes interessadas. Um jogo de xadrez que não terá fim, nunca! A arte imita a vida, a vida imita a arte, e tudo se confude. Todas as peças já não possuem mais diferenças, são todas a mesma porcaria feita do barro da inveja, cobiça, vaidade, fúria, gula, preguiça e luxúria. Você acha que é importante, mas não passa de um figurante sem propósito e descartável dos filmes de Hollywood. O psicopata sempre está à solta, pronto para te armar o bote na primeira esquina fria e escura. Não tem escapatória! No final, só o mocinho se salva.
Desculpa, filho, se pareço revoltada e desiludida com a vida, não é bem assim… Mas é meu dever de mãe te alertar para o filme que está prestes a assistir. Eu sou a sua censura até então, e é meu dever te dar toda a sinopse antes de você clicar no botão “play” do controle remoto. Queria muito poder te dizer que o cenário ainda é tão belo e natural quanto o de “E o vento levou”. E que a vida ainda é uma comédia muda e hilariante como “Os tempos modernos”. Épocas diferentes, valores diferentes, filmes diferentes…
Sei que irá me julgar, me condenar e até me rejeitar em alguns momentos da sua vida. Acredite, uma pessoa como eu não é tão levada à sério assim… hehehe! Quem seria tão louco a ponto de se expor dessa maneira, sem razão alguma aparente, em rede pública? Mas um dia você irá concluir que fui a figura mais honesta e sincera que cruzou o seu caminho. Na nossa convivência você vai perceber que não acredito em “jeitinhos” e falar a verdade, por mais que machuque, é sempre a melhor solução. Sem hipocrisia ou eufemismos. Sei que por isso sou julgada socialmente, mas acredite que sempre tenho a consciência tranquila. Isso que mais prezo, a paz e tranquilidade de espírito. Por isso decidi lutar contra esse ridicularismo social e ignorar os padrões éticos criados por pessoas que se consideram modelos de vida.
Tenho ciência de que, às vezes, minhas palavras chocam. Alguns amigos me valorizam justamente por essa atitude agressiva e, de uma certa maneira, aparentemente imatura. Outros não aceitam e apenas entram no jogo de xadrez, como bons adversários…
Acredite, poderia passar horas escrevendo centenas de folhas sobre esta minha estranha visão de vida. Nao posso afirmar se estou certa ou errada, apenas aceito a maneira que penso, é nessa realidade que me sinto mais protegida. Estou, simplesmente, fazendo o mesmo joguete que todos, só que do lado oposto…
Cansei, filho… Cansei e tenho a obrigação de te mostrar o que vejo em tudo isso aqui. Gostaria muito de poder te proteger de tantas coisas! Queria mesmo poder te poupar de sofrimentos que parecem desnecessários, mas nunca são! Vai doer em você, vai machucar a mim. Mas são precisos! Assim que você vai poder escolher o caminho a ser seguido.
Como qualquer boa mãe, não me importo de me expor para abrir os seus olhos e te preparar. Agora só me resta te desejar BOA SORTE!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Who wants to live forever?


Ah, filho! Sabe quando, às vezes, nos sentimos vazios? Foi exatamente assim que me senti ontem, tanto que nem consegui escrever aqui para você. Eu estava assistindo a um filme com o seu avô e de repente me percebi assim, vazia. Highlander, A Origem. O último de Duncan Mcleod, adoro! Parece uma história boba até, mas me delicio tanto com a idéia da imortalidade que me interessei por essa personagem desde a primeira vez que a vi, quando criança. Lembro-me bem de quando, ainda com menos de 1,5 metro de altura, chorava às noites na minha cama, em silêncio, olhando para uma moldura com a foto do meu pai que ficava presa na parede do meu quarto. Eu temia demais a morte dele, pedia todos os dias a Papai do Céu para nunca matar o meu pai, para mantê-lo vivo para sempre. Na verdade eu orava olhando para a foto dele, mas suplicava também por minha mãe e minha cachorrinha poodle da época. E por mim, claro! Mas a Binnie morreu…
Depois cresci, já estava com 19 anos e chorava às noites por temer a morte do primeiro homem da minha vida, um grande e verdadeiro amor. Ele tinha 11 anos a mais e eu já pensava na nossa velhice juntinhos, mas lembrava muito bem da diferença de idade. Sofria a sua morte antes da minha por antecipação. O que eu faria pelo resto da minha avançada vida sem ele por perto? Nossa, como sofri! Terminamos o namoro não por falta de amor, mas por discordâncias, por seguirmos rumos completamente opostos, por possuirmos idéias totalmente divergentes. Às vezes o amor não é suficiente, Anachin… No nosso caso, por exemplo, não foi. Ele morreu menos de dois anos depois do rompimento e então vi que eu não estava sofrendo por tanta antecipação assim. Tive que aprender a conviver com a dor de não tê-lo mais por perto desde a minha juventude. Nessa época eu ainda temia por meus pais, por meu cachorro Mix (meu maior companheiro) e por ele. A vida levou o meu amor e o meu melhor amigo…
Seria maravilhoso se fôssemos todos imortais! Ontem, após assistir ao filme, me senti tão vazia! Precisei deitar, e pensar… Pensar! A imortalidade, tudo que eu sempre desejei antes de ter mesmo a noção de que era um sonho impossível. Se isso fosse alcançável eu poderia viver muitas vidas, poderia ser muitas pessoas e ter muitas idéias diferentes. Seriam experiências inacreditáveis! Tenho certeza de que a maioria das pessoas já pensou sobre esse assunto...
Eu poderia me arriscar com toda a imprudência, não teria medo de experimentar todas as drogas e curtir as maravilhosas sensações descritas por usuários, maravilhosas mas bem menos virtuosas do que a nossa simples vida de mortal. Seria grandioso poder ter muitas profissões, viajar todo o mundo, teria tempo suficiente para trocar de filosofia de vida! De tempos em tempos eu seria uma personagem diferente, com visual modificado e ar inusitado. Nossa, filho! Volto a ser a criança sonhadora de antes sempre que penso nisso!
Se fôssemos imortais não haveria a sensação de que “aquilo que deveria ter sido, não foi. E o que pode ser, nao será”. Não sofreríamos por algo irremediável, seria possível corrigir qualquer erro cometido. Cada dor que te fosse causada, seria fácil curar. Bastaria morrer e renascer para uma nova vida, para um começo. Começo, não seria recomeço, sempre tudo novo! O velho que sempre seria novo…
Um dia, há alguns anos, me veio uma frase tipo filosófica em mente e isso passou a fazer algum sentido. Talvez tenha sido um presente divino depois de tantas súplicas por um caminho para o “FELIZES PARA SEMPRE” dos filmes da Disney. O pensamento estava certo e só agora eu entendi como atingí-lo.
“A imortalidade só é alcançada por aqueles que são capazes de escrever a sua própria história”.
Hoje, além de temer por meus pais, receio por você, querido. Preciso mais do que nunca ser imortal. Não para mim, mas para você! Para seus filhos e seus netos... Quando digo que este blog é o melhor presente que eu poderia te dar é exatamente neste sentido. A eternidade. Não apenas a minha, mas a sua e a de seu pai. A de seus avós, dos amigos de sua mãe, da sua família.
Ah! Uma coisa mais que não mencionei. No filme, os incansáveis guerreiros procuram a fonte da vida e o segredo da imortalidade. Depois de lutas seculares e massacrantes, Duncan Mcleod, por mérito, foi o escolhido para conhecer a verdade. Sabe qual foi a revelação inesperada? Um filho…

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A Espanhola


De frente para o meu quarto tem um quadro que já acompanhou a minha família em todas as residências que tivemos, por todos esses anos. A Espanhola…
A pintura é feita em cima de um espelho retangular e a dançarina está em postura de quem vai atrair todas as atenções, com um vestido comprido de alças e decote nas costas, preto, com as saias rodadas e rosadas, de vários babados. Uma sapatilha com enorme salto, o cabelo preto e preso num coque, e ela está numa sala que possui uma mandala verde e amarela por trás de uma parede de tijolos e uma porta em formato de arco. Para completar o cenário, há um vaso verde com detalhes dourados numa faixa preta, quase ao meio do objeto.
Desde pequena eu me via naquela espanhola, sentia uma conexão inexplicável com a obra. Sempre gostei de dançar, mesmo antes de saber andar. Ensaiava saltos descompassados, cantava músicas desordenadas e tinha a certeza de que era uma estrela! Lembro-me bem das festas em que participava de gincanas e sempre ganhava a medalha de ouro… hehehe! Ninguém conta a história da Emilia Iguatemi melhor do que a minha mãe, mas esse conto fica para um outro dia…
Eu tinha a certeza de que seria famosa, conhecida por qualquer pessoa e querida, muito querida. Como uma boa baiana, estava convicta de que seria cantora de Trio Elétrico, tão famosa quanto a Marcia Freire da época e a Ivete de atualmente. Queria muito viver da música, da dança, da fama… Não sei onde me perdi, filho! Há quem diga que eu tinha talento.
Eu sempre olho para esse quadro, enfim, e penso no quanto eu gostava de dançar. Me sinto tão livre! Nao necessito de aulas, simplesmente fecho os olhos, respiro fundo e deixo a melodia invadir o meu corpo. O ritmo cuida do resto, não preciso me preocupar com passos, como se a música tomasse conta das minhas veias, como se as cifras se transformassem no ar que penetra nos meus pulmões.
Ah, quando me recordo das muitas noites da Heaven! Londres já foi cenário de inúmeras memórias, mas as noites de segunda-feira foram ímpares! Eu só precisava dos meus óculos escuros, de dois bastões luminosos e pronto! A música alta tomava conta de tudo, nada mais passava na minha mente além de passos inéditos. Acho que a Ana Paula, o Miguelão, Miguelito e a Elaine, além de outros muitos amigos, podem descrever essas cenas melhor do que eu. Como era bom, nossa! Eu me sentia uma pessoa importante naqueles momentos, rodeada da melhor platéia, os meus queridos amigos. Eu sentia a leveza, a beleza, a alegria de estar no lugar certo com as pessoas certas. Se não fosse você, filho, eu trocaria meus dias atuais por aquelas noites em Londres, sem pensar duas vezes! Eu fui muito feliz…
Hoje penso como será bom dançar com você. Para você e por você. Outro dia estava conversando com o seu pai no msn (não imagina como é estranho ter esse contato virtual com o homem que compartilhou comigo a sua existência, filho) e estávamos falando sobre meus desejos futuros. Ele me pediu para citar um deles e eu disse que sonhava com o dia em que estaremos os três dançando, abraçados e felizes. Ele ficou mudo por um momento e disse: “Yeah, it would be nice…”
Seria sim, seria maravilhoso!
Será… Não importa a quantidade de bailarinos no nosso salão, será sempre um espetáculo!
Vamos acompanhar os passos da espanhola, a bela dançarina do quadro que presenciou toda a minha infância e juventude. A linda mulher do vestido rodado que me inspirou a ousar ritmos, lugares, idéias e experiências jamais vividas. A Espanhola, minha personagem principal, numa cena que, por mais simples e congelada num espelho retangular, me levou a delírios da Heaven e, por fim, a você…

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O príncipe de pés enormes

Aconteceu uma festa dentro de mim hoje! Um vira e mexe, muitas sacudidas e pontadas, toda a minha barriga parecia estar se contorcendo. Sem dor, apenas a sensação de que algo estava brincando de cambalhotas dentro de mim. Era você, filho. Você não pára! Deve estar procurando a melhor posição, um jeito confortável de permanecer no calor do meu útero.
Como é gostoso te sentir! É o momento em que tenho a certeza de que tudo isso não é sonho, de que meu pequeno realmente existe. Até agora, entrando no sétimo mês de gestação, posso dizer que estou tendo a gravidez perfeita. Você é um bebê muito bonzinho, nunca me fez sentir enjôos, desejos, dores, nada! Só falta o seu pai... Sinto muito ele não estar aqui agora, para senti-lo, para conversar com você. Para que você pudesse ouvi-lo e sentir-se protegido por seus braços ao ser envolvido ainda na minha barriga, da mesma maneira que eu me sentia quando estávamos juntos em Londres. Nossa! Era a melhor sensação do mundo, fantástico! Eu sinto muito que as coisas sejam dessa maneira. Queria que você tivesse uma história diferente, mas ao mesmo tempo comum. Você merecia isso…
Você merece tudo, filho! É um vitorioso, lutou para existir até quando eu mesma não tinha ainda realizado o quanto era importante. É um guerreiro, um príncipe! Um príncipe… As minhas amigas o chamam assim, Tammy e Sangela. Elas dizem sempre que você é muito especial. Você é mesmo muito especial, e farei de tudo na vida para dar-te o melhor, até o impossível!
Posso imaginar a farra que faremos juntos. Vou te jogar na minha cama, morder seu bumbum gordo e branquinho, fazer você rir com cócegas por todo o seu corpo! Dar beijos e beijos na sua orelinha, no seu rosto rosado e perfeito, na sua mãozinha, nos seus pés! Posso já ver na ultra, tem pés enormes!!! Assim como os do seu pai, eu adorava os pés dele, os seus serão iguais! Acho que vocês serão muito parecidos…
Não sabemos do futuro, Anachin, mas o presente é o que importa realmente. Somos nós dois agora, eu e você, e desejo ser a melhor mãe do mundo! Desculpa se às vezes desanimo, desculpa quando choro de desespero e medo… Eu te peço desculpas o tempo inteiro, porque sei que você sente a minha aflição. Eu não imaginava que as coisas fossem ser tão difíceis assim. Mas prometo que tentarei superar toda a minha angústia, e vou me esforçar para ser a melhor mãe que poderia ter! Nós vamos vencer, prometo!
O príncipe, o meu lindo príncipe de enormes pés… Eu preciso sempre te dizer que você é a única razão que tenho para continuar. Não consigo mais esperar para poder sorrir e olhar nos seus olhos. Não consigo mais esperar para ser reconhecida com seus abraços e afagos como A MAMÃE, a sua mãe…

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Mas é claro que o Sol vai voltar amanhã...

Hoje não acordei muito bem, filho. No momento que abri os meus olhos pensei em toda a situação que nós dois estamos passando em silêncio, e isso me deixou completamente desanimada. Voltei a dormir e só me levantei após o meio-dia. Senti um calor enorme por toda a tarde, uma dificuldade em respirar o ar puro de onde moro… Pensando bem, será que é tão puro assim mesmo? Será que o mundo ainda possui algum lugar imune a todas as desgraças que vêm acontecendo? Acho que nossos organismos já estão massacrados, tramautizados com tantas notícias bizarras, com tanta maldade que está tomando conta da mente humana…
Essas questões me deixaram completamente irritada e então resolvi subir até o centro comunitário do condomínio, de onde pode-se admirar o horizonte mais belo, com um mar azul e extenso, coqueiros de ponta a ponta e o céu mais límpido que se consegue avistar. Precisava ver e pensar em algo belo, para conseguir retomar a coragem que tive no momento que decidi tê-lo, Anachin.
Mais tarde, como de costume, liguei a Tv e assisti o noticiário. Meu ânimo sumiu completamente, mais uma vez… Em menos de 30 minutos me senti um nada! Talvez um dia você entenda, na verdade espero que não. Já sentiu-se fora das dimensões do mundo? Assim que estou me sentindo, atualmente…
Mais de 550 pessoas mortas na guerra entre Israel e Faixa de Gaza. O governo Israelita rejeita os pedidos mundiais para o cessar fogo. 11 municipios do litoral sul catarinense decretaram situação de emergência por causa das inundações. Muitas famílias perderam tudo que tinham, inclusive parentes e amigos. Aumentou o número de mortes nas estradas federais, nas festas de final de ano. Mais de 7 mil acidentes e a maioria ocorreu por imprudência, desrespeito à Lei Seca. Tudo isso apenas no jornal de hoje!
Voltei a pensar na tarde agradável que tive no centro comunitário, na música que me veio à cabeça no momento em que esqueci dos problemas. Uma melodia linda, que dedico a ti agora, filho…
Talvez essa canção seja o consolo de muita gente hoje, após a perda de bens e familiares, ou para as pessoas presas no meio daquela guerra do Oriente Médio, até mesmo para os parentes das vítimas da imprudência.
Essa é a mensagem que desejo deixar para você, filho.
Hoje, Renata Russo se tornou o profeta do Amanhã…

"Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem

Tem gente que está do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Tem gente enganando a gente
Veja nossa vida como está
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança

Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem

Nunca deixe que lhe digam
Que não vale a pena Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança"

domingo, 4 de janeiro de 2009

A exóterica

Uma vez, acredito que eu tinha 16 ou 17 anos, minha madrinha me levou a uma exotérica. Eu não tinha nada específico para perguntar, mas mesmo assim fui pela farra. Ela trabalhava no próprio apartamento, numa sala totalmente preparada para receber os seus clientes. Lembro-me bem de uma mesa redonda, pequena, apenas para duas pessoas. Pedras coloridas e variadas abaixo da mesa, para que eu pusesse os meus pés, descalça. Uma toalha trabalhada sobre a mesa, onde ela jogava outras pedras.
Eu sentei muda, esperando todo o ritual começar. Ela era jovem, confesso que não aparentava uma mulher vidente, dotada de poderes paranormais ou algo parecido. Mas para mim foi como um oráculo…
Ela disse muitas coisas sobre a minha vida, passada e futura, mas algumas delas foram tão impressionantes que decidi escrever sobre isso aqui, hoje. Após examinar a linha da vida na minha mão direita, a exotérica me disse que eu tinha a linha profissional muito bem definida, ou seja, que eu procuro sempre o perfeccionismo em tudo que faço, não apenas profissionalmente mas na vida pessoal também. Na maioria das minhas encarnações (essa para quem acredita em espiritismo e vidas passadas), eu vim como homem e fui o maior cafajeste que uma mulher poderia conhecer. Machuquei, enganei, traí, e hoje muitos dos homens que passam por essa minha vida feminina foram algumas das moças iludidas por mim naquele tempo, como uma espécie de carma. Além disso, por eu ter sido muitos homens, perdi a minha sensibilidade e me comprometi a resgatá-la dessa vez. Para isso, seria fiel ao homem que estivesse ao meu lado e criaria duas crianças, mesmo que essas não fossem filhos legítimos meus. Eu ainda iria sair do país, morar fora por um tempo e conhecer uma pessoa especial. Essa pessoa seria “o homem da minha vida”, provavelmente o pai dos meus filhos, e eu jamais o abandonaria. Se algo não desse certo, seria por decisão dele, não minha.
De fato não sou a mulher mais feminina que conheço, pelo contrário. Estou mesmo bem longe disso… E confesso que, quando criança, era muito pior! Hoje, aos 27 anos, estou evoluindo a cada dia mais, me sentindo mais, com uma sensibilidade mais aguçada para a vida, para os sentimentos e até para a razão. Eu sai do país, morei em Londres por quase dois anos e conheci realmente uma pessoa especial, que eu amo demais, o pai do Anachin, desse filho que estou esperando. E se hoje não estamos juntos é por decisão dele…
O mais engraçado de tudo é que, antes mesmo de ouvir as premonições dessa exotérica, eu já imaginava tudo isso. Eu sempre quis morar fora, sempre quis conhecer uma pessoa que não pertencesse ao mesmo mundo que eu e que ele fosse O CARA. Sempre quis ter dois filhos, um casal. Sempre quis curtir uma vida inteira de farras e paqueras para que, um dia, fosse extremamente fiel a esse homem especial.
Ela ainda me disse muitas coisas que prefiro não comentar aqui, mas asseguro que todas as profecias se realizaram. O meu interesse por exoterismo surgiu da alma, desde que nasci, mas confesso que a partir do momento que a conheci a curiosidade se tornou uma religião. Hoje o meu filho, naquela época ainda uma possibilidade, está se tornando realidade a cada dia mais. A barriga está crescendo e ele se mexendo, sentindo o meu corpo e eu o dele. Uma conexão incrível que ultrapassa as barreiras do entendimento e filosofia. Ser mãe, querido, ser sua mãe, é a coisa mais surpreendente que poderia acontecer na minha vida!
Gostaria de reencontrar essa mulher, para sentar-me novamente à sua mesa e ouvir idéias sobre o seu futuro, Anachin. Para escutar que tudo dará certo, de que seremos muito felizes e unidos. Eu e você, você e eu e nós dois… Embora eu saiba, desde o momento que tive conhecimento da gravidez, de que isso está além de premonições. É um fato!
Será sempre muito bom, seria melhor ainda se fôssemos “os três”, e após algum tempo “os quatro”…

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O aniversário de Gigi

Estou sentada neste exato momento na varanda da casa, admirando a movimentação do quiosque. Minha família, amigos e vizinhos (vizinhos nao menos amigos) se divertem, dançam, bebem (MUITO!), conversam… Melhor, falam bobagens! Hehehe! Nada melhor do que as bobagens para esse tipo de ocasião…Hoje é a celebração dos dois anos de Gigi, a minha sobrinha. Na verdade, mesmo que não fosse nenhum aniversário, casamento, formatura ou algo do gênero, a festa estaria acontecendo. Sempre acontece! Nesse momento o som toca músicas de discoteca dos anos da brilhantina, depois de uma seleção de forró, pagode, Timbalada, Chiclete, Ivete e outros. As crianças almoçam (preciso dizer que são cinco e meia da tarde) e os adultos já beberam mais de dois engradados de skol, além de vodka, whisky e cachaça. Ainda há dois engradados esperando no enorme isopor e uma panela de feijão na cozinha…Minha tia Nicia, a vizinha, já me disse que sou A VELHA por não dançar, hehehe! Mal ela sabe que estou aqui sentada apenas obrservando, escrevendo sobre todos…Livia, tia por direito, irmã da minha mãe, já fez brigadeiros e agora está bebendo, dançando e esperando o marido chegar do trabalho. Batista é um catarinense que se apaixonou por ela e se entregou à Bahia há 15 anos atrás. Hoje pode-se dizer que é tão baiano quanto eu ou mais! A filha deles, Laise, está com 11 anos e no momento brinca com Gigi, ela adora!Ju, da mesma idade que Lai, filha do outro irmão da minha mãe, Beto, está sentada ao meu lado lendo Poderosa 2, super compenetrada! Lana, a minha cachorrinha poodle, está nos guardando. Ô, cãozinho feroz!Minha mãe, muito tímida, se esforça para dançar e para isso tem um jeito todo particular. Muito engraçado, eu não canso de admirar! Ela comprime o nariz, aperta os olhos, prende um único sorriso no rosto por todo o momento e se movimenta com pulinhos e braçadas rápidas, parecendo uma criança. Eu estava até comentando com Livia mais cedo sobre o quanto ela se esforça para estar ali no meio, por causa da timidez. Meu pai, com o copinho de whisky numa mão e o cigarro na outra, bem diferente da minha mãe e nada tímido, se joga no meio da roda e vai até o chão, como se estivesse no embalo dos Beatles. Gigi nesse momento já está lá no meio também, gritando “eu tô doida! Eu tô doida!” Hehehe!Minhas tias Leninha e Waldecy estão cochichando algo e rindo muito no meio do salão. Eu acho que até posso imaginar o que conversam… Minha irmã Carolina, como sempre, está com o celular no ouvido no meio do campo de futebol, provavelmente falando algum “babado” com a amiga.Meu irmão Rodrigo está na parte que ele provavelmente considera a melhor do quiosque: onde está o isopor! Ele não se move de lá há horas! Está operando o som e conversando com Pinheiro, Marcio e Leo.Minha tia Zilma não bebe mas está no bolo, participando de todas as loucuras. Ou melhor, comentendo a maioria delas. A sua filha, Thay, está brincando com Duda, a pequena de Lucy. Essa também dança no quiosque com o marido Emanuel, um lunático de dois umbigos, ahahaha! Ele já perdeu três psicotestes do Detran e está se preparando para fazer o quarto. Pensando melhor, acho que Lucy é a verdadeira lunática! Caê, o irmão dela, aparenta ser a pessoa mais normal aqui hoje. Tiago, o meu primo, um doce! Esse, tadinho, ainda não conseguiu se desprender da camisa de Reveillon, acho que criou uma paixão alucinante por ela… Está rodando a pobrezinha como se fosse um laço de peão! Meu tio Codu no momento nao percebo, mas já ouvi a Tv ligada dentro de casa, tenho certeza de que está vendo novela… Meu tio Paulo, cadê? Ah! Acabo de enxergá-lo sentado pertinho de Rodrigo, também com a camisa do Reveillon no pescoço. (Agora entendo que essa paixão desenfreada por camisas brancas é de família. Ele é o pai de Tiago…)Já são seis e meia da noite… Eu continuo aqui sentada observando e escrevendo… Zeca Pagodinho já dominou o ambiente com “Jura”. Esse é o segundo aniversário da Gigi, imagina! Pronto! A festa esta completa! Batista chegou!!! Veio do trabalho mas já apareceu de bermuda e chinelo… E mais! Trouxe Saionara, a mãe da Ju! Minha companheira de bronze.Pena que Jadir e Adaci já partiram… Mas isso não impede que eu comente que é um casal de tios super hiper maravilloso! Parte fundamental nesse quadro. Nossa! Quem vejo ali descendo o caminho? Vieira! Um grande amigo dos meus pais. Ele e a família estavam morando em Porto Alegre, mas agora estão se preparando para voltar a Salvador. Adoraria que Denise e João tivessem vindo com ele hoje…Filho, acho que deu para ter uma idéia da situação, né? Um dia será o seu aniversário que estará sendo comemorado dessa maneira! Hoje o seu avô sentou-se ao meu lado e disse: “ele vai me amar muito, viu! Será um grande amigo, pode crer!” Eu não tenho a menor dúvida disso! Tenho absoluta certeza de que você amará a todos, assim como a Gigi. Ela se sente tão confortável no meio deles, muito mais do que eu mesma! Você também se sentirá…Anachin, meu filhote mais que amado e desejado, eu não podia antes realizar o quão importante você seria na minha vida. Não há nada que eu faça hoje que não seja pensando em meu bebê, antes mesmo de pensar em mim. Anular ou apenas adiar alguns planos por você é um sacrifício que vale à pena demais! Agora mesmo você está mexendo, me fazendo sentir sensações indescritíveis, me fazendo sorrir e até mesmo imaginar momentos que, daqui há alguns anos, com certeza não serão apenas planos… TE AMO!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

O mar dos mistérios

Os fogos iluminaram todo o céu. Luzes de todas as cores fizeram desenhos inéditos no escuro que predominava naquele momento. Eu permaneci no deck de casa, admirando o festival pirotécnico, o tempo suficiente para imaginar toda a sua trajetória, filho. Minutos que se tornaram uma vida…
Decidi passar o Reveillon em casa, de vestido branco e descalça, para ter o máximo de contato com a terra e poder absorver da natureza a força que precisarei para enfrentar o ano de 2009. A festa foi como prevista: família, som alto até amanhecer, alegria e cumplicidade dominando do início ao fim. Decidi esperar o dia surgir para poder te mostrar o quão linda é a vida apontando no horizonte. O seu primeiro nascer-do-sol, Anachin! Eu adoro asistir esse fenômeno, me sinto renovada, renascida e com energias dobradas. Costumava sair às noites e ficar sempre acordada até esse momento, só para poder ter o rosto aquecido com as leves flechas de luz e, após isso, dormir no meu quarto totalmente iluminado e silencioso ate o meio-dia. Nada melhor!
Hoje fomos à praia. Somente eu e você. Como tradição, o primeiro dia do ano pede um banho de mar para espantar as energias negativas e abrir espaço para os bons fluidos. Eu já tinha comentado isso com você antes, o mar esconde os maiores mistérios do mundo e é capaz de neutralizar o peso da vida. É preciso amá-lo e respeitá-lo, sempre! Você pode confessar os seus segredos a ele e pedir proteção para seu caminho. Acredite, se for um pedido sincero, o mar não deixará de te ouvir e atender.
Quando estavámos na água, cinco crianças se aproximaram e me indagaram se eu estava grávida, eu respondi que sim. Então, curiosas, me fizeram uma série de perguntas sobre você. Em seguida ficaram comentando entre si, até que se despediram quando resolvi sair. Achei a cena muito engraçada! Penso que nunca me senti tão bem em toda a gravidez! Adorei ser percebida, ter a aproximação de crianças que eu não conhecia antes. Ser rodeada por elas e sentir a empolgação com a chegada de um “novo neném”, como diziam, so me deu forças para completar o ritual do primeiro banho do ano. Pedi muita paz, sorte e saúde para você em toda a sua vida. Pedi por tranquilidade na sua vinda e proteção da natureza em todos os seus caminhos.
Logo, em menos de 3 meses, será o nosso grande encontro. Em menos de 3 meses você estará nos meus bracos, sentirá o calor do meu corpo e me reconhecerá como seu porto seguro. Meu bebê nao tem a menor noção da quantidade de pessoas que está aqui esperando ansiosamente por sua chegada! Nossa família e amigos comentam de você todo o tempo, tentam imaginar como será o pequeno que vai mudar totalmente a minha vida, da maneira mais intensa e mágica! Fazem planos divertidos para quando estiver maior e puder se juntar a eles.
No próximo Reveillon você estará conosco, comemorando mais um novo ano, celebrando a bênção da vida e se banhando no mar dos mistérios, só que dessa vez não mais dentro de mim, mas nos meus braços…
Feliz Ano Novo, filho!