quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

High Tide Or Low Tide


Engraçado como o tempo passa e as minhas lembranças se tornam ainda mais próximas e claras.
Tudo parece que aconteceu ontem, desde o dia em que eu ainda estava fechando as malas e partindo para um mundo completamente desejado e desconhecido. Os flashes são automáticos e associados, as imagens coloridas e nítidas. As sensações permanecem no meu corpo como arrepios, ânsia de vômito, calafrios...
Na sexta-feira, eu precisei ir a Salvador. Então resolvi ter uma “viagem” agradável, embalada ao som de Jack Johnson, Ben Harper e Donovan Frankenreiter. Grandes companheiros de muitas histórias, antes mesmo de Londres. De repente, lembranças de Amsterdam, imagens de uma trip deliciosa em 2007. Éramos sete, mas parecíamos um grupo de excursão completo! Filho, um dia você irá encontrar em algumas pessoas o verdadeiro significado de “boa companhia”. E esse grupo era exatamente o que eu procurei a minha vida inteira. Bastava-me... Eu nunca tive melhor sensação sobre estar com as pessoas certas. Fosse na maré baixa ou alta, lá sempre estavam todos eles. O ambiente louco e delinquente da Holanda só acentuou a perfeição dessa fase que vivi.
Quando saí do Brasil, a Globo transmitia uma novela no horário nobre chamada “Páginas da Vida”. Um dos cenários inicias foi Amsterdam. Os personagens eram dois jovens, um casal de namorados apaixonado. A garota engravidou inesperadamente e a vida deles se tornou um inferno. O rapaz a deixou e ela procurou no Brasil o apoio que precisava, a família. Não houve mais contato entre eles e a garota morreu após um parto induzido com quase nove meses de gestação, causado por um acidente de carro. O casal de gêmeos sobreviveu... O pai continuou distante e sem notícias do acontecido, por anos... Quando estava prestes a viajar, sua avó me pediu que tomasse cuidado e citou essa novela como exemplo. Eu nunca imaginei que esse quadro fosse parecer tão real para mim, em alguns aspectos...
Confesso que ainda me sinto como uma das trezentas e poucas páginas de um romance retórico, desejada, lida e depois virada sem maiores cerimônias. Uma parte que serviu de guia e depois esquecida. Um pedaço da história que foi censurado. Uma mera folha amassada...
Daí a minha mente retorna à grandiosa viagem para Amsterdam, como proteção de uma memória exausta e descrente. Pa, Miguelito, Kely, Mau, Ana, Gui e eu. O encantador Canal da Mancha, o hostel, os coffee shops, os bondes e as suas trilhas cortando toda a cidade, a linda imagem do bicicletário, a Red Light District, a doceria... Fotos não expostas e lembranças jamais esquecidas. Imagens que não se tornaram turvas nem com o passar do tempo, nem com a fumaça viciosa que envolve toda a cidade. Ainda no carro e ouvindo “High Tide Or Low Tide”, pensei como seria maravilhoso retornar até lá com as mesmas pessoas, após alguns anos. Imaginei Pa ainda surfista convicto, Gui mais tatuado, Mau muito mais relaxado, Kely menos contida, Miguelito sempre mau-humorado antes do “café da manhã”, Ana com alguns centímetros a mais (Ahahahahahah! Se possível né, amiga? Tô brincando... Não chora!), e eu... Eu... MÃE! Só faltou a Camila! Ela não pôde ir conosco na primeira, mas com certeza estaria na próxima. Seria realmente maravilhoso! Todos mais velhos, experientes e com algumas novas e interessantes histórias no bolso do casaco.
Flashes e mais flhases. Passagens que não me deixam esquecer o quanto vivi. Cenas que vivenciei e que me fizeram a pessoa mais feliz desse mundo. Casos como esse são importantes para mim agora mais do que antes, pois sustentam uma idéia de que nem tudo foi em vão. Na maré alta e na maré baixa. Aqueles momentos em Amsterdam foram congelados em fotos e em nossas memórias.
Algumas das páginas do best-seller que está se tornando a minha vida...

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