sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A 144 bpm

Estamos entrando no oitavo mês, quase reta final, e todos ainda tentam sentir-te mexendo. Ninguém consegue...
Eu já avisei, já disse, mas não desistem. Passam a mão na barriga, massageam, conversam com você, esperam algum sinal de vida, mas nada adianta. Você só aparece para mim! Quando isso acontece é que tenho a certeza de que nossa ligação está acima de uma relação maternal. Nossa convivência se faz necessária por motivos espirituais, talvez um carma até, compromisso de vidas passadas, promessas não cumpridas que precisam ser realizadas agora, creio mesmo nisso.
Todas as noites, ao me deitar, reservo alguns minutos de conversa com você. Aliso a minha barriga, tento sentir alguma parte do seu corpo, experimento palavras e tons de voz que te fariam mais agitado. Sempre dá certo! Uma noite te chamei e não obtive sucesso na minha busca. Então pus a mão num ponto do lado direito da barriga e disse bem alto “my baby!”, e você deu um chute muito forte. Ri demais, começamos a conversar. Perguntava-te coisas, e você prontamente respondia com mais chutes. E o melhor de tudo é que sempre acertava nas respostas.
Confesso que me divirto quando digo a todos que meu Anachin só quer mexer para mim, a mãe dele. E para mais ninguém! E isso se tornou um desafio para alguns...
Há quinze dias estava sem contato virtual, baby. E isso foi bom para nós dois. Eu fui “forçada” a me desligar do mundo e me dedicar apenas a você. Saimos, compramos utensílios para o seu enxoval, nos divertimos na piscina, conversamos, relaxamos bastante! Agora que a minha rede voltou ao normal posso escrever novamente. Mas precisávamos desse tempo...
Refleti, analisei toda a situação por diversas vezes, sofri muito! Ri alguns momentos com um alívio repentino por loucas conclusões. Tive tempo de juntar tudo, repicar e jogar para o alto, perceber a chuva de ilusões caindo sobre a minha cabeça. E depois catar os pedacinhos em todos os cantos... O ritual se repetiu todos esses dias. Uma brincadeira perigosa, cheia de armadilhas e incógnitas, recheada de enigmas, engenheira por si só. Tomou vida própria, construiu e demoliu as minhas bases mais de trezentas vezes por dia. Deixou-me tonta de tanto pensar, me derrubou com rasteiras da capoeira mais traiçoeira. Para levantar custou sempre mais esforço... Como dizem na Bahia “para descer todo santo ajuda!”.
Ao final do dia senti o corpo cansado, pesado, desmembrado. A mente já não acompanhava mais as minhas vistas. Melhor descansar nos braços de Morfeu e desfrutar dos sonhos que já não tinha há tempos. Sonhos coloridos, surreais e descompromissados da minha infância. Mas a consciência me traiu e me trouxe pesadelos impiedosos. Não tive trégua! A vida deu seu recado. E fez questão de ter a certeza de que a mensagem foi recebida como deveria.
A realidade é um só: VOCÊ ESTÁ CHEGANDO, ANACHIN!
O resto... É RESTO!
26 de janeiro, dia de médico, de acompanhar seu crescimento. Dois meses da previsão para seu nascimento e você já estava com 42cm e 1,7kg. Seu coração batia a 144bpm, você estava perfeito! Você é perfeito! Não pode imaginar o meu orgulho em ser a sua mãe!
02 de fevereiro, dia de Iemanjá na Bahia. Uma das maiores festas populares da cidade de Salvador acontecia e nós recebemos um recado dela na noite anterior. Um sonho misterioso, o mar, uma rede, o peso de uma onda interminável sobre as minhas costas. A areia parecia mais forte após o impacto com meus joelhos. O mar me expulsou com firmeza, agressivo. Iemanjá não aceita dúvidas como oferenda...
05 de fevereiro. Descanso. Decidi dormir o dia inteiro, delirar, até desviar a atenção para desejos ultrasecretos dos meus tempos dourados. Quantas vezes sonhei com Peter Pan e o Capitão Gancho? Nossa... Tom e Jerry! Até mesmo o Roger Rabbit! Ahahahaha! Seria muito bom voltar a revê-los... Ouvi risadas da Gigi na varanda da casa e não consegui me concentrar mais, queria participar da festa. A Gigi sempre me faz esquecer por algum tempo que os meus problemas realmente existem. A sensação que tenho quando a admiro é a de que estou no lugar certo, com a pessoa certa, no momento certo. Nem posso imaginar como será a minha primeira vez com você. Mas uma certeza eu tenho: O MUNDO VAI PARAR, PARA SEMPRE!
As suas 144 batidas serão o nosso ritmo, a nossa velocidade. Eu posso senti-las sempre que enconsto a mão na minha barriga. Tantas pessoas já me contaram suas experiências como mãe, as suas emoções indescritíveis ao primeiro contato, mas sinto que nada disso poderá se comparar ao nosso momento. Cada caso é um caso, cada história tem a sua importância, e sei que no meu mundo emocional vivência alheia nenhuma poderá ser válida. Vamos construir tudo de novo...
Menos de dois meses, filho. Contagem regressiva para uma queda livre. Um salto sem pára-quedas, o desafio mais temido e o mais esperado da minha vida...

Nenhum comentário:

Postar um comentário