segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Não há fotógrafos...

Eu não podia medir a sensação antes, mas agora vendo os trios e a multidão através da TV, a alegria estampada em cores nos abadás, as músicas mais dançantes, a luz que brilha em toda a avenida, o arrepio inexplicável que contagia o povo, a energia que emana de cada canto da cidade... A indescritível emoção que inunda os circuitos do carnaval de Salvador. Assitir a tudo isso por uma tela quando estou apenas a 40 minutos da maior festa popular do planeta, nossa! Eu não podia recordar o quanto doía não estar lá.
Eu nasci no meio disso, filho! Eu fui contemplada por ter pais maravilhosos que só queriam me proporcionar o melhor, por nascer numa época em que a festa ainda podia ser curtida por pessoas de todas as idades e classes sociais, quando o carnaval ainda era dos baianos. Eu fui criada nas ruas vestida com diversas fantasias, pude curtir o som do Chiclete, pulando sem preocupações no meio da Avenida Sete, ainda criança. E já adulta, ainda tive a oportunidade de seguir o Camaleão do lado de fora do bloco, segurando firme a corda por todo o percurso. Vivi o InterAsa... Segui os trios independentes ao maravilhoso som de Armandinho e Luis Caldas. Nada pode hoje ser melhor do que aqueles tempos de carnaval... Eu, minha família, uma festa genuinamente soteropolitana!
Hoje estou sentada na frente da TV, apreciando a alegria do povo e esperando por você, Anachin. Vejo jovens começando a vida, sem grandes preocupações e com aquele sorriso típico de quem ainda acredita. Um sorriso que eu tinha há quatro anos e perdi, recuperei com muito sacrifício e me foi arrancado novamente, sem o menor pudor. E o mais incrível é que ainda sou muito jovem...
Vejo através da televisão grupos fazendo pose para fotos. Seja um profissional, um desconhecido ou até mesmo um amigo, sempre há alguém de plantão para registrar esse momento tão incrível e inesquecível. Episódios únicos que serão congelados para toda uma eternidade.
E hoje então me dei conta de que não temos muitas fotos, não há quem registre... Ainda bem que já existe o disparo automático após dez segundos! As poucas capturadas são frutos dessa maravilhosa tecnologia, feita para viajantes solitários. Hoje pude realizar que estou há quase seis meses dentro da minha casa e as únicas pessoas que vejo diariamente são os meus pais, minha sobrinha Gigi e os três funcionários. Além dos pássaros, micos e sapos, claro... Não há um fotógrafo! Seus avós não se tocam dessa minha necessidade e a Gigi só tem dois anos.
O tempo passou voando, a semana corre numa rapidez que eu não tinha a noção antes. Já faz mais tempo que estou aqui, sozinha, esperando por você, do que o tempo que vivi com o seu pai. E posso te dizer que todos esses meses foram superdimensionados na minha cabeça. A verdade é que tenho a impressão de sempre ter estado no meu quarto, na minha cama. De que tudo não passou de um enorme sonho.
Tantas coisas aconteceram, meu amor! Tantas outras não puderam se concretizar...
Faltou uma pessoa aqui que poderia registrar todos esses momentos muito melhor do que eu, muito melhor do que qualquer um!
Preciso te dizer o quanto você fez uma barriga linda! Como estou realmente linda, e é uma pena que tudo isso esteja acontecendo, baby! Preciso também dizer o quanto me dói ensaiar fotos de nós dois, sozinha, quantas delas já foram deletadas! Como me constrange pedir a algum desconhecido que fotografe a minha barriga na praia, e depois ter que explicar, inevitavelmente, que não há uma companhia, que não há um companheiro...
A vergonha de posicionar uma máquina e sair correndo, fingir que não percebo nada e fazer uma pose, escolher um sorriso falso, esperar o disparo do flashe... Nesse momento sempre realizo que nunca me senti tão só. Nossa, filho! Mulher nenhuma merece passar por isso! Então me escondo em algum canto da casa onde não haja perigo de flagras, e inicio uma sessão de clicks solitários. Não pode imaginar a tristeza que me toma sempre que penso que a ocasião merece uma boa foto, mas não há fotógrafos...
Aprendi a respirar suavemente, compassadamente, para que essa dor não tome conta de mim. E percebi que estou praticando esse exercício há quase seis meses, e por isso não sinto mais os meus pulmões.
Assisto na TV uma alegria incessante e coletiva. E tudo que penso quando assisto é ter-te nos meus braços pela primeira vez, para poder usufruir de uma sensação melhor ainda. Uma emoção exclusiva. Um disparo automático, único e eterno na minha memória...

Um comentário:

  1. Nao pense no que poderia ser... pense no que é... pense em seu pequenino crescendo saudável... pense que aflat pouquinho tmepo pra vc tê-lo em seus abrçoas... pense q a espera não é apenas sua... que ele tb esta ancioso por conhecer estaq voz q o embala... este corpo que o proteje com sua propria vida... pense que ele deseja saber de quem é o "tum tum" do coração que o nina mesmo la dentro.

    Não estou pedindo pra vc fingir q a ausencia não existe... sei muito bem o que é isto... mas estou sobrevivendo... e vc tb é capaz.. aliás...muito mais capaz q eu... muito mais guerreira e decidida que eu... então... prenda-se apenas as boas experiencias... Eu por exemplo estava muuuuuuito mais pertinho do carnaval que vc e confesso que não tive este tesão todo... pude aproveitar mais o tempo com meu pequenino... fazer as vontades dele e ver o sorriso de satisfação e aquela vozinha linda dizendo... "eu te amo mamãe... muito muito... pra sempre!"... daqui a algum tempo vc vai ouvir isto tb e vai entender q essas coisas ficam diminutas em relação ao amor q recebemos deles!! Se cuida ta bom!!!
    Bjokas duplas...

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