segunda-feira, 2 de março de 2009

Um dia de cada vez, uma vez a cada dia

Um domingo atípico. Casa vazia, ausência de música, bebidas e festival de tira-gostos. Poderia ter sido um final de semana como todos os outros, com bastante gente transitando da piscina para o quiosque, sua avó na cozinha todo o dia, preparando comida para um batalhão, seu avô ouvindo o som no volume máximo até estourar as caixas, enfim... Nada disso aconteceu.
O dia estava muito quente, abafado, e então decidi jogar-me na piscina. Sozinha, apenas um gelado copo de Coca-cola me acompanhava. Esse eu tenho a plena certeza de que nunca me abandonará... Mergulhei, a água estava simplesmente deliciosa. Senti-me tão bem ali, sorri. Protegida, feliz. Imaginei o nosso primeiro mergulho juntos. Quando pequena, eu costumava correr para o mar ainda com roupa. Fugia para a primeira poca d’água. Não tinha paciência em esperar para ter aquele sempre maravilhoso encontro com as ondas. Acredito que com você não será diferente...
Então ali estava, na piscina, e comecei a experimentar a leveza que sentia. Criei passos, vagarosamente. Movi os braços e as pernas, o quadril. Ensaiei movimentos das artes marciais, imitando cenas de filmes que tinha assistido antes. Acompanhei as ondas que formei com as mãos e observei a direção que os meus longos fios de cabelo seguiam, em mudança constante. Experimentei o silêncio, submersa. Fiz massagem na barriga para que você sentisse as vibrações. Pensei em nós dois. Pensei em você, meu filho. Olhando em volta percebi o que estava acontecendo. Definitivamente, o paraíso te aguarda aqui, ao meu lado.
À noite, sentei-me para assistir o Fantástico. Eu, um pedaço do bolo de chocolate que a sua avó fez (maravilhoso!), um outro geladíssimo copo de Coca-cola e Lana, como sempre ao meu lado até o fim de todas as noites. Vi uma reportagem sobre a guerra travada entre o Vice-presidente José Alencar e o câncer. Há 11 anos, sem trégua. Filho, eu nunca passei por graves problemas de saúde, mas tenho a certeza de que não há drama maior do que a falta dela. É incrível a coragem daquele homem! E a clareza para encarar os fatos é, sem dúvida, invejável! A tranquilidade, a sobriedade. Em seu discurso, ele diz que não é a coragem que o faz enfrentar a doença, mas sim a necessidade. Simplesmente é necessário! E não se deve temer a morte, pois ela faz parte do ciclo da vida. Que cada dia que lhe for dado, será aproveitado. E finalizou agradecendo a Deus.
Respirei fundo, pensei nos seus avós quando idosos, pensei em mim no fim de tudo isso. Pensei em você, provavelmente eu não estarei aqui para te abraçar. Quis chorar, uma tristeza precoce invadiu o meu peito e me fez ter a certeza de que não estou preparada para tal despedida. Sempre encarei a morte como algo realmente natural, mas confesso que acreditava na eternidade da nossa família. Hoje, certa de que isso não existe, percebo que toda a minha infantil e doce ilusão não passava da não aceitação dos fatos. Deu uma vontade louca de fugir, me esconder desse futuro cruel e pesado, feio. Desconhecido...
Fugir... Correr do mundo até ultrapassar suas barreiras imaginárias. Fingir que não existo, debaixo das cobertas talvez, até que a vida esqueça que estou aqui. Ser invisível para a morte. Inexistente para a tristeza. Nula ao sofrimento. Mas daí vem o nobre pensamento do nosso Vice-presidente, sobre encarar a morte para viver a vida, viver a vida para encarar a morte. Respirar todos os processos, todo o ciclo. E senti-me tão pequena! Covarde e fraca. Como me odeio sempre que desejo essa fuga! Uma corrida contra o tempo que, por um momento, faz tanto sentindo. Mas que depois se torna incoerente e estúpida.
Tudo bem, desisto. Entrego-me à realidade. Nada de complexo de Peter Pan, nunca mais! A Terra-Do-Nunca não existe, ou pelo menos eu ainda não tenho conhecimento desse mais que valioso mapa. Viver um dia de cada vez, como se fosse o último. Sem exagerar no Carpe Diem, claro...
E no meio de todo esse melodrama de novela mexicana, agarro o desfecho da história como a vilã mais sedenta por uma resposta aos meus violentos traumas. O segredo é experimentar. Não dar espaço às frustrações. Não se deixar enganar por futilidades e banalidades que só tomam o seu precioso tempo. Dividir o prazer da vida com as pessoas que ama, e que te amam. Agradecer aos elementos da natureza, pedir permissão diária para utilizá-los a seu favor. E depois de muito treino, conseguir ser mais veloz do que a própria consciência. Conseguir sorrir para o dia assim que abrir os olhos, antes mesmo de pensar, pelo simples fato de ter acordado mais uma vez. Em menos de um mês terei o maior motivo para acordar, todos os dias... O meu Sol, Anachin.
Despertar amanhã mais contente do que hoje. E assim por diante. Um exercício sem fim, para o resto dos meus dias...
Um dia de cada vez, uma vez a cada dia.

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