quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Os mundos paralelos

Como o tempo voa!
Há um ano eu estava sentada na varanda da casa, tomando café da manhã e me recuperando de seis intensos dias de farra. Era carnaval. Um maravilhoso carnaval... Eu nunca poderia imaginar que minha vida estava prestes a mudar de direção, ainda mais de uma maneira tão brusca.
Naquele tempo eu tinha a certeza de que a minha volta a Londres, após toda aquela festa, seria viagem “one way” por bastante tempo... O carnaval foi uma despedida. Meus planos eram perfeitos! Eu estava feliz. Coração desimpedido, mente livre de qualquer vício e vontade, corpo descansado e muita disposição. A quarta-feira de cinzas, no ano de 2008, representou mais do que o fim de uma comemoração anual. Simbolizou um adeus glorioso.
Eu nunca tive tanta convicção dos meus sonhos e desejos. Não havia dúvidas sobre planejamentos. Caminho longo, futuro consagrado. Realização espiritual, mais do que pessoal. Ninguém nunca poderá entender o que viver em Londres significava para mim... Só eu mesma sei o quanto me custou chegar até lá, filho. Só eu mesma sei o quanto me custa estar de volta...
No sábado saímos para escolher o seu berço portátil e o carrinho. Uma sensação gostosa, a empolgação tomou conta de mim e quis tudo que existia nas lojas! Fiquei imaginando você em cada canto, vestindo todas as roupinhas, calçando todos aqueles lindos e minúsculos sapatos. Vi-te dormindo no seu bercinho verde, passeando no seu carrinho vermelho, desfilando com a provocante camiseta do Esporte Clube Bahia. Você combina com tudo, baby! Sua avó está super empolgada. Claramente pode-se ver a emoção no sorriso e olhos dela quando encontra algo para você nas vitrines. Após as compras, ela voltou para casa explodindo de felicidade! E eu refletindo sobre como tudo seria diferente se estivéssemos em Londres. Nem melhor e nem pior, apenas diferente...
É muito difícil viver em dois mundos paralelos, Anachin. Inexplicável como o passado e o presente se cofundem na minha cabeça. Um martírio interminável. Uma saudade dolorosa. Uma distância que aumenta a cada dia... Seria maravilhoso se eu pudesse conciliar tudo! Você, Londres, o ano de 2007 com o pessoal da Bush Road, os meses de 2008 no “box room” em Hornsey, meus pais e a Gigi, a praia... Tudo que me fez realmente feliz e realizada até agora. Indescritível seria poder apreciar, da Tower Bridge, a Lua Cheia que temos aqui. Ou poder comer um delicioso acarajé aos sábados, na Porto Belo Road. Melhor ainda seria dançar ao som da Timbalada no Hyde Park, numa bela tarde de sol de domingo. Dar a famosa volta no Guetho... Se a praia onde moramos fosse a dez minutos de Londres, nossa! Nenhum lugar no mundo poderia ser mais completo!
Às vezes penso em tudo que aconteceu e percebo o pouco que me faria extremamente feliz. Quando pequena, eu tinha a certeza de que seria famosa, rica, linda! Hoje, aos 27 anos, todos esses sonhos me parecem muito distantes e apenas anseio a paz. Depois de tudo que já me aconteceu, em tão pouco tempo, eu realmente não poderia desejar nada além disso. Por mais que a minha vida em Salvador seja muito mais tranqüila e fácil, ainda assim eu me sentia mais realizada em Londres. Não conseguiria explicar os motivos, mas aquela cidade mexe demais com a minha alma. E a situação que me encontrava antes de descobrir a gravidez era, na minha cabeça, um cenário quase que perfeito.
Preciso dizer que em momento algum me senti ameaçada por você, filho. Afinal, ser sua mãe sempre foi o meu maior desejo. Lutei muito para tentar manter tudo do jeito que estava, travei uma guerra até comigo mesma para continuar com todos os planos e sonhos. A vida é feita de escolhas... Eu ainda não podia ter tudo. Nem preciso registrar que ter a sua presença foi a única opção pensada no momento da decisão. Sempre foi, desde o início!
Hoje me percebo pensativa, bolando estratégias para reaver aquilo que me foi tirado, planejando um futuro mais do que desejado. Às vezes confundo os motivos e tudo me parece uma simples questão de honra. Mas logo recobro a razão e se torna mais claro quando transformo meus sonhos em objetivos de vida. O mundo da fantasia me encanta, mas a praticidade deve ser a essência da minha vida. Eu não tenho tempo a perder. As únicas idéias de um futuro próximo que me chegam são uma pós-graduação em jornalismo e mídia, a continuação dos cursos de idiomas estrangeiros, uma aprovação num bom concurso que me levará de volta para Londres em boas condições, e a sua formação, que depende do sucesso de tudo isso. Sinto-me um andróide, programada para executar sem ressalvas. Sinto-me mal por me sentir assim. Sinto-me muito bem quando penso que ser “isso” poderá me levar ao sucesso.
A emoção está perdendo mais espaço para a racionalidade e pensar estrategicamente é tudo que me resta no momento. O verdadeiro jogo da vida. Os dados viciados foram proibidos e o blefe tornou-se risco de penalidade máxima.
Você é tudo que enche o meu coração de calor, amor e paz. Você representa o resto de inocência que ainda persiste dentro de mim. Isso ninguém foi capaz de arrancar do meu peito, estava reservado. Agora você também significa uma racionalidade que me assusta, muito mais do que necessária.

Um comentário:

  1. Que lindooo...

    "No sábado saímos para escolher o seu berço portátil e o carrinho. Uma sensação gostosa, a empolgação tomou conta de mim e quis tudo que existia nas lojas!"...

    Ja senti isso amiga... é maravilhosooo... quero ver vc cheia de emoções fortes e boas assim.... sempre viu... Procure o sol... mesmo qdo não tenho forças... olho pro meu sol particular: KAIKE e ele me traz uma força difícil de se imaginar possível!!

    Bjokas duplas...

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