quarta-feira, 25 de março de 2009

A sombra


Mais uma noite de sábado sozinha. Provavelmente a última que me sentirei assim por bastante tempo...
Todos dormiram cedo e eu, sem sono suficiente, permaneci na sala por algumas horas a mais num silêncio divino. As noites já foram o meu maior pesadelo, filho. Quando pequena, não conseguia sequer levantar da cama para ir ao banheiro ou beber um copo d’água. O seu avô, sempre muito paciente, ia ao encontro do meu desesperado chamado e sempre me tranquilizava. Imagino o alívio que ele sentiu desde o dia em que eu perdi o medo do escuro, mas também posso ter uma pequena idéia da falta que o meu grito faz a ele hoje. Deve ser muito triste para um pai pensar que o seu bebê cresceu e já não depende tanto dele. E, um dia, seu pequeno te traz um novo bebê... Coisa louca!
Havia apenas uma coisa que me divertia no escuro, que me fazia rir e não desejar que aquele momento acabasse. As sombras. Ficávamos eu e meus irmãos fazendo desenhos com as mãos nas paredes do quarto, imitando bichos e criando divertidas histórias. Cachorros, aves, cobras e até monstros terríveis! Tudo era engraçado e interessante. Qualquer desenho, por mais abstrato que fosse, tinha uma graça única! Crescemos e a brincadeira foi esquecida, perdeu todo o sentindo e já não possui mais toda aquela ingenuidade. As sombras sumiram e, se estão aqui, ninguém mais se importa com elas. Foram ignoradas.
Noite de sábado e eu sozinha, pensei na minha sombra como única companhia. Resolvi encontrá-la depois de anos que não a percebia. Fui até a parede e lá estava ela! Maior, com novas curvas, mais séria e sem tantos movimentos. Sem dúvida, eu estava diferente. E você também apareceu, filho. Ainda está dentro de mim, mas já sobressai no reflexo da minha alma. Linda, a sombra estava simplesmente linda! Não me contive e bati uma série de fotos. Precisava registrar esse momento para uma posterioridade não mais solitária.
A sombra, a minha mais secreta consciência, me dizia que você estava mais próximo do que eu podia imaginar. Alguns minutos admirando a representação da minha essência na parede e logo constatei que mais bela nunca fui. Jamais possuí algo tão valioso dentro de mim, algo tão majestoso e perfeito. O formato espetacular do meu corpo traduz a sua graciosidade.
Hoje não tenho mais medo do escuro. Sei que só assim posso ter a companhia do reflexo mais belo e familiar. Penso também nas lindas sombras que se formarão da imagem de nós dois, abraçados. E logo estarei criando as figuras mais engraçadas na parede do quarto, todas as noites, apenas para diverti-lo.

2 comentários:

  1. Lú, minha "adorada desbotada",
    Lí o seu blog e me emocionei em alguns trechos por outro lado, me preocupou sentir que você está ' SE PUNINDO DEMAIS". ERRAR E ACERTAR FAZ PARTE DA VIDA DE TODOS COMO É VIVER E MORRER. Nós não estamos nesse mundo para julgar nem condenar ninguém mas sim, para aprender e nos fortalecer esperitualmente com os erros e acertos.
    Lú, tudo que eu queria enquanto lia seus desabafos era ter você no meu colo e lhe abraçar bem apertadinha, enrolando seus cabelos nos meus dedos como eu fazia quando você era criança.
    Você tem sido muito corajosa em se abrir de maneira sublime colocando todo o seu sentimento nas suas palavras. Isso não é covardia isso é grandeza de espírito.
    Lú, lí não lembro quando nem onde mas vou passar pra você essa fraze que fez eu refletir muito e procurar o meu espaço nesse mundo louco e adorável: - "NÃO IMPORTA QUANTOS PASSOS VOCÊ DEU PRA TRÁS O IMPORTANTE AGORA SÃO QUANTOS VOCÊ VAI DAR PRA FRENTE".
    E lembre-se, o "Pequeno Princípe " está chegando para segurar as suas mãos e lhe conduzir pra um caminho de muita LUZ e muita PAZ. Pode chegar ANACHIN, estamos todos de braços abertos para te receber e te amar.
    Beijos no seu coração. Te amo. Dinda Aurinha

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  2. O melhor texto q vc ja escreveu!
    beijos!

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