sábado, 10 de janeiro de 2009

BOA SORTE!

São dez horas da noite de sábado e eu estou em casa escrevendo para você, pequeno. Há alguns anos não existiria essa possibilidade, até mesmo porque não poderia sequer imaginar que você estaria vindo assim, tão depressa e de uma maneira inesperada…
Ultimamente não tenho saído de casa. Não me agrada mais a idéia de estar em público, em barzinhos ou boates, nem mesmo a vontade de comparecer em reuniões em casa de amigos existe. Tomar um bom banho e passar um hidratante, vestir uma camisola confortável, sentar para assistir a novela do horário nobre tomando uma sopa de legumes ou caldo verde e, após tudo isso, escrever aqui para você acompanhada de um delicioso copo de coca-cola geladíssimo, isso sim! Isso sim é a melhor das diversões para mim no momento.
Quer saber? Estou cansada de presenciar a vida imitando a arte! O dom artístico das pessoas está cada vez mais aguçado, já não sabemos mais quem está desempenhando o seu papel natural ou quem está apenas tentando ganhar o Oscar! Fica difícil sustentar uma conversa, acreditar nos textos pré-programados é um sacríficio sobre-humano. Ver a novela, por mais mentirosa e ridícula que seja, está me parecendo algo mais prazeroso…
Filho, um dia você vai perceber e não tem escapatória! E provavelmente um dia você também irá fazer o mesmo com alguém, até perceber que se tornou um pouco daquela marionete ambulante da pós-modernidade. Se livrar das cordas será uma tarefa árdua e praticamente impossível, tão dolorosa quanto tirar a sua propria pele… Hoje, escrevendo isso para você, me sinto um pouco dentro da Matrix, como se eu tivesse arrancado aqueles cabos de energia da minha cabeça e estivesse lutando contra o computador que nos guia. Você irá enxergar, Anachin, que é muito mais fácil julgar as pessoas por seus próprios erros. Que todos serão sempre o seu espelho e verá os seus defeitos refletidos nos olhos do próximo, do mais próximo, mas nunca em você. Perceberá que está apto SEMPRE a dar conselhos, mas nunca a ouvi-los. Que as suas idéias são as mais viáveis e justas, e que seus erros não serão erros, mas atitudes justificáveis. Você NUNCA admitirá que suas ações foram vergonhosas ou até mesmo apenas equivocadas. Mas o seu amigo, ou aquele indivíduo que foi mencionado nas páginas policiais ou de fofocas, esses sim! Sempre tiveram comportamentos duvidosos… Na sua família não terá homossexuais ou viciados, jovens vagabundas, ladrões, enfim! Nenhum componente que a sociedade classifica como “pessoa com desvio de caráter”. Se a vida não te liberar disso, você dará um jeito de ocultar. O seu clã é PERFEITO! Pelo menos aos olhos famintos da aglomeração social precária que chamamos de CIVILIZAÇÃO.
Aqui já existe uma troca de favores entre as partes interessadas. Um jogo de xadrez que não terá fim, nunca! A arte imita a vida, a vida imita a arte, e tudo se confude. Todas as peças já não possuem mais diferenças, são todas a mesma porcaria feita do barro da inveja, cobiça, vaidade, fúria, gula, preguiça e luxúria. Você acha que é importante, mas não passa de um figurante sem propósito e descartável dos filmes de Hollywood. O psicopata sempre está à solta, pronto para te armar o bote na primeira esquina fria e escura. Não tem escapatória! No final, só o mocinho se salva.
Desculpa, filho, se pareço revoltada e desiludida com a vida, não é bem assim… Mas é meu dever de mãe te alertar para o filme que está prestes a assistir. Eu sou a sua censura até então, e é meu dever te dar toda a sinopse antes de você clicar no botão “play” do controle remoto. Queria muito poder te dizer que o cenário ainda é tão belo e natural quanto o de “E o vento levou”. E que a vida ainda é uma comédia muda e hilariante como “Os tempos modernos”. Épocas diferentes, valores diferentes, filmes diferentes…
Sei que irá me julgar, me condenar e até me rejeitar em alguns momentos da sua vida. Acredite, uma pessoa como eu não é tão levada à sério assim… hehehe! Quem seria tão louco a ponto de se expor dessa maneira, sem razão alguma aparente, em rede pública? Mas um dia você irá concluir que fui a figura mais honesta e sincera que cruzou o seu caminho. Na nossa convivência você vai perceber que não acredito em “jeitinhos” e falar a verdade, por mais que machuque, é sempre a melhor solução. Sem hipocrisia ou eufemismos. Sei que por isso sou julgada socialmente, mas acredite que sempre tenho a consciência tranquila. Isso que mais prezo, a paz e tranquilidade de espírito. Por isso decidi lutar contra esse ridicularismo social e ignorar os padrões éticos criados por pessoas que se consideram modelos de vida.
Tenho ciência de que, às vezes, minhas palavras chocam. Alguns amigos me valorizam justamente por essa atitude agressiva e, de uma certa maneira, aparentemente imatura. Outros não aceitam e apenas entram no jogo de xadrez, como bons adversários…
Acredite, poderia passar horas escrevendo centenas de folhas sobre esta minha estranha visão de vida. Nao posso afirmar se estou certa ou errada, apenas aceito a maneira que penso, é nessa realidade que me sinto mais protegida. Estou, simplesmente, fazendo o mesmo joguete que todos, só que do lado oposto…
Cansei, filho… Cansei e tenho a obrigação de te mostrar o que vejo em tudo isso aqui. Gostaria muito de poder te proteger de tantas coisas! Queria mesmo poder te poupar de sofrimentos que parecem desnecessários, mas nunca são! Vai doer em você, vai machucar a mim. Mas são precisos! Assim que você vai poder escolher o caminho a ser seguido.
Como qualquer boa mãe, não me importo de me expor para abrir os seus olhos e te preparar. Agora só me resta te desejar BOA SORTE!

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