sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A comédia e a tragédia


A reclusão.
Neste exato momento da minha vida ela se faz mais do que necessária. É a minha melhor amiga e minha pior inimiga. Nunca imaginei que poderia passar tanto tempo sem pertencer a um meio social, sem ter muitos contatos com amigos e até mesmo conhecidos, ir a festas, desfilar nos shoppings à procura de algo que, na verdade, não preciso. Sair para dançar, me bronzear nas praias mais badaladas, ser paquerada...
Um simples percurso de Londres a Salvador e minha vida se resumiu a um terreno de pouco mais de três mil metros quadrados em Jauá. Meu mundo, uma rede, uma piscina, um campo de futebol que não utilizo, um quiosque onde acesso a internet, uma varanda onde me localizo agora e escrevo. Uma casa, um refúgio, um esconderijo, um spa, o céu. A claridade incomoda aqui!
O Éden...
O inferno também, algumas vezes...
Os meus pensamentos ecoam em todos os cantos, batem nos muros, fazem a volta e vêm novamente em minha direção como furacões devastadores. Eles gritam! Berram! Soam como o canto das águias sobrevoando o local da caça, parecem com animais feridos e escondidos dentro das árvores. Com medo, com raiva, com dor...
Se assemelham, ao mesmo tempo, a filhotes de passarinhos ainda depenados no ninho, à espera do alimento que chegará no bico da mãe. Aos bichos escrotos que só aparecem à noite, aos insetos que sugam nosso sangue após o pôr-do-sol, aos gatos que saem sutilmente em busca de presas na escuridão.
Confuso! Ao mesmo tempo muito claro...
A grande preocupação do mundo em “Ser ou não ser” não se classifica mais como “A questão”. Posso ser tudo, ou nada! Ja fui tudo, e agora me sinto como um nada... Logo poderei ser mais do que tudo outra vez! Basta uma estratégia diferente na minha mente e meus pensamentos se voltam para um mundo totalmente desconhecido e digno de exploração agressiva! Esqueço as aparências e realizo na minha imaginação coisas jamais ousadas na contemporaneidade. A mente é uma máquina poderosa, especialmente para aqueles que vivem dela... Eu não tenho outro caminho a percorrer no momento, dela me alimento e trabalho o passado, o presente e o futuro. Um cotidiano, ao mesmo tempo uma vida diferente a cada dia, sem interrupções.
A minha cabeça vai explodir! Respiro fundo, e logo a calmaria toma conta... As ondas da mentalidade alienada já não são mais nocivas. A paz reina novamente e tudo volta a ser como imagino a eternidade. Um espaço branco totalmente iluminado, uma luz que machuca as vistas, sem som, sem paredes, sem limites. Confunde os sentidos... Como isso pode representar, ao mesmo tempo, a vida e a ausência dela? Corro como uma alucinada e, de repente, um buraco se abre sobre mim e começam a cair meus velhos e novos pensamentos, colorindo tudo, e me afogo!
Mas não morro...
O conflito, seguido da tranquilidade instantânea quando percebo que nada fiz de errado! Apenas confiei no mundo... Apenas vivi!
Confio em você, filho, como a quebra do sigilo. Confio em você como a bandeira de paz estiada e a revolução por ideais inaceitáveis! A quebra do ciclo... Como o bem e o mau, a linha tênue que separa a razão e a emoção. Porque já não sei mais o que posso ser quando penso que você estará aqui e guiará a minha vida como um pacificador e, simultaneamente, como um gladiador! Você será meu Gandhi e meu Alexandre. Minhas duas faces.
A comédia e a tragédia.
Meu céu e meu inferno...
Meu velho inimigo e o mais novo amigo.
A minha liberdade e o direito de percorrer os universos parelos dos mortais e imortais.
O meu mundo...

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