quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A música...


A música...
Um dia você perceberá que nada me faz mais feliz, mais completa.
É com ela que choro, que sorrio, que me esqueço das coisas ruins e lembro dos melhores momentos da minha vida. Uma criação divina! Tenho certeza de que uma coisa tão maravilhosa não pode ter sido idéia de simples humanos como nós...
Eu acordo com a música e durmo com ela. Com certeza o fiz acompanhando algum ritmo, filho. E será com ela que irei criar-te.
As minhas lembranças sobre música são inúmeras...
Eu odiava aquele silêncio da sala de aula nos dias de prova. Não conseguia pensar. Por isso sempre cantava na minha mente músicas durante a realização de alguma, todo o tempo! Do momento que sentava na carteira ao momento que assinava e entregava a apostila à professora. Confesso que não sei tomar banho sem uma boa seleção musical. Hoje, as canto para você enquanto aliso a minha barriga debaixo d’água. Dirigir sem som? Jamais! Tenho cds favoritos para esse momento. Quando estou muito triste e não consigo segurar a angústia, pego a chave do carro e o meu cd country, sigo em direção à Estrada do Côco e só retorno quando me sinto melhor. Choro, choro muito! Depois que a tristeza passa eu sorrio, e começo a berrar as letras como uma louca! Nesse exato momento escrevo para você e escuto Nirvana – unplugged in NY. Ultimamente são as canções que representam meu estado de espírito. Aquela voz... Rasga-me por dentro, me vira do avesso e joga todas as minhas emoções para fora. Fecho os olhos e tudo que aconteceu, desde que descobri que você existia, volta como flashes que me cegam! Dói, mas depois vem o alívio... E começa tudo de novo...
Aperto os olhos numa tentativa desesperada de conter as lembranças, em vão. Elas estão aqui, estarão para sempre, em mim, em você, em tudo que diz respeito a nós...
Não sabes o quanto me condeno todos os dias por fracassar. Eu imaginei outra situação, bem diferente disso tudo. Uma comemoração na descoberta, um abraço de felicidade do seu pai, ouvir “obrigada por ser a mãe do meu filho, o bebê mais lindo do mundo!”, um cuidado excessivo que se tornaria até engraçado e ridículo, a alegria de desfilar com a barriga mais linda (porque está mesmo linda!) de mãos dadas e ter a felicidade em poder dividir os momentos do médico, dos cuidados e toda a preparação para a sua chegada...
Não imagina como é estranho receber beijos do seu avô na barriga, todos os dias, de minhas amigas, de suas tias e de quaisquer outras pessoas, menos do seu pai. É terrível perceber a preocupação alheia conosco, mas não a dele como deveria ser...
É aí que essas músicas entram em cena, como uma tentativa não menos falha de substituir a presença que deveria ser dele. Eu sei que é difícil de entender tudo isso que estou dizendo agora, mas eu prometi a você que não esconderia nem um detalhe da sua história. Essa é a sua história até agora, e preciso dividir com você.
A música...
Consegue ouvi-la? “Come as you are, as you were, as I want you to be. As a friend, as a friend, as an old enemy...”
Tenho a certeza de que está ouvindo, Anachin! Você se mexe como se estivesse dançando, assim como eu fazia! Nossa, como você se mexe!
As músicas...
Expressões sentimentais, de todas as formas do estado de espírito. Melodias mágicas que podem começar ou cessar uma guerra, uma guerra de almas, dos sexos, dos anjos... Poderosos canais de troca de energia. O choro torna-se uma música, assim como o riso, um lamento, um alívio...
O balanço de folhas com o vento, o vento, o bater das asas dos pássaros e seus cantos, o rio... O mar!
Poemas musicados, canções recitadas... Tudo, no fim, vira música!
O sangue da humanidade, a essência da natureza, criações divinas completamente distintas e, ao mesmo tempo, com o mesmo propósito. A música!
A música, filho... Seu momento, todos os seus momentos, a sua história.

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